sábado, 30 de julho de 2011

Vamos pra escola!!!

Estão acabando as férias. Me lembrei do meu tempo de garoto. Fui alfabetizado no final da década de 60 com lápis e caneta tinteiro. Esferográfica naqueles tempos, era novidade. Até a década de 50, estudantes levavam para a escola penas de mergulho e tinteiros de encaixe. As penas de mergulho eram vendidas em embalagens com 20 até 100 unidades. Feitas em aço, não tinham ponta de metal duro. As tintas, bastante corrosivas destruíam rapidamente as penas que se tornavam irritantemente rascantes. A solução era descartar a pena e trocar por uma nova.


Os tinteiros de encaixe, eram cinturados em sua base para encaixar no tampo da carteira, num furo que lá existia. Estudei num colégio na cidade de São Paulo, que ainda tinha carteiras com esse furo. Certo dia inclusive, eu ganhei quinze "bottons" do Corinthians que cabiam bem justo nesse furo. Distribuí os "bottons" pela sala encaixando-os "na marra". Não saíam nem com reza. Como a maioria da turma era de sãopaulinos, a revolta estava garantida ;-)))


Carteira com furo para encaixar tinteiro


Nesse panorama, uma caneta tinteiro era a salvação da lavoura para um estudante. Ainda era necessário levar o tinteiro para a escola, pois a capacidade da caneta freqüentemente não era suficiente para um dia de aulas, mas o tinteiro ficava tampado e guardado sob a carteira, de maneira muito mais segura. Em geral, um reabastecimento no intervalo principal era suficiente para terminar a jornada.


As canetas tinteiro da década de 50 e 60, eram ainda consideradas instrumentos de luxo e os fabricantes perceberam que deveriam criar modelos simplificados para diminuir custos e torná-las acessíveis aos estudantes.


Apesar de baratas, precisariam ser obrigatoriamente robustas, pois a utilização escolar, é uma das utilizações mais severas que um instrumento de escrita pode experimentar.


Os principais fabricantes, optaram então por dois caminhos distintos. O mais simples, era fabricar edições barateadas de modelos mais caros. O mais complicado, era criar projetos exclusivamente desenvolvidos para utilização escolar.


Vamos ver alguns modelos de fabricantes famosos...


Parker


A década de 50, foi marcada como divisora de águas das canetas tinteiro. E o maior expoente dessa história, foi a legendária Parker 51. Uma Parker 51 entretanto, não era uma caneta para estudantes, em parte pela sofisticação demasiada, mas principalmente pelo preço, que fazia dela uma caneta distanciada da realidade da maioria dos estudantes. A Parker tentou inicialmente, baratear a Parker 51, lançando-a com pena de aço inoxidável, protetor de reservatório simplificado e com tampa cromada. O modelo foi denominado Parker 51 "Special", que apesar de mais barato, ainda era caro demais para uso estudantil. Pra não perder o bonde da história, a Parker tratou de criar uma caneta escolar. Visualmente muito parecida com a Parker 51, nascia a Parker 21, que diferia da "prima rica", por usar um polímero mais barato (poliestireno ao invés de acrílico), por utilizar um sistema de pena mais convencional (recurva em aço inoxidável ao invés de cilíndrica em ouro como a 51) e por ter um clipe de tampa sem a famosa flecha da Parker.


Uma Parker 21 MkII

Mas os estudantes queriam mais... Apesar do enorme sucesso da Parker 21, seus donos se ressentiam basicamente da falta do clipe em forma de flecha e também de uma pena cilíndrica como na Parker 51. Foi lançada então a Parker 21 Super, que continuou em produção até o ano de 1965.

Uma Parker 21 Super

No final da vida da Parker 21, havia ainda um modelo "Flighter" (corpo e tampa em aço inoxidável). A Parker 21 havia se tornado uma caneta mais cara e sofisticada. A Parker 45 que nasceu para ser uma caneta simples havia tomado seu lugar, sendo mais barata pois empregava técnicas de fabricação mais simples.

Pelikan

Fabricante alemão tradicionalíssimo, a Pelikan sempre foi notória por canetas de elevadíssimo padrão tecnológico, mas sua política de preços a afastava drasticamente das carteiras escolares. A Pelikan, optou então pela criação de linhas exclusivas para estudantes, sendo as mais famosas a linha Pelikano e a linha Go!

O sistema de abastecimento mais tradicional da Pelikan, era o famoso "piston filler", que pela complexidade encarecia demais uma caneta escolar. As Pelikano, por essa razão, eram quase que exclusivamente modelos a cartucho.

A Pelikan Go! M75 foi provavelmente a última "piston filler" escolar lançada pela empresa alemã. Era disponível também na versão P75, de design idêntico, mas com abastecimento por cartucho.

Uma Pelikan Go! M75


Johann Faber

Era o nome da subsidiária brasileira da empresa alemã Faber Castell. A Johann Faber, situada na cidade de São Carlos - SP, atualmente chama-se Faber Castell do Brasil. Fabricou excelentes canetas no Brasil. A mais famosa, foi a Faber Estudante. Tive uma que me acompanhou da quinta série até a faculdade. Era uma "piston filler" (na melhor tradição alemã...) com pena removível manualmente sem necessidade de ferramentas, bastando desrosquear para trocar ou para limpeza. Houve ainda uma segunda geração da Faber Estudante, com linhas mais retas e o mesmo sistema de pena removível e abastecimento "piston filler".

Uma Faber Estudante "demonstrator"

No início da década de 70, a Johann Faber, mudou radicalmente sua linha. Lançou a Faber 66, uma caneta mais sofisticada, com design inspirado na Parker 45 e com a pena muito semelhante à Sheaffer Skripsert (ambas modelos "escolares" das respectivas marcas). A Faber 66, era uma caneta abastecida a cartucho. Tinha corpo em polímero e tampa metálica em versões cromada e folheada a ouro. A versão escolar da Faber 66, era a Faber 56, idêntica em quase tudo, exceto na tampa que também era em polímero.


Uma Faber 66


Pilot


A prestigiada empresa japonesa, também fabricou canetas tinteiro no Brasil até meados da década de 70. Uma de suas mais conhecidas criações, foi a Pilot Juvenil, que como o nome não deixa duvidar, era uma caneta escolar. Tinha um design bastante avançado e abastecimento a cartucho. Uma das melhores relações custo-benefício que já tivemos em nosso país. Precisa, macia e barata.


Uma Pilot Juvenil


Dollar


Pouco conhecida no Brasil, a Dollar é uma empresa paquistanesa, que fabrica uma completíssima linha de material escolar. Fabrica canetas tinteiro baratas, praticamente todas voltadas para uso escolar. A mais emblemática delas, é um modelo denominado Dollar Student Pen. É uma "piston filler" com manípulo de acionamento interno. Sua tampa encaixa na extremidade posterior do corpo com um "clique" que impossibilita a perda da tampa. Simples, barata e praticamente à prova de bala. Custa no mercado internacional, menos de US$ 5.00.


Uma Dollar Student Pen

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Materiais - Polímeros (Terceira Geração)

A década de 50 chegava ao fim. Mesmo os países que haviam sido destruídos pela guerra, já estavam firmes novamente. Os polímeros desenvolvidos durante e por causa da guerra, já começavam a se mostrar "idosos". Novos materiais começaram a surgir. A mais brilhante das idéias no ramo, foram os COPOLÍMEROS.


Copolímeros, são polímeros cujas cadeias são formadas por monômeros diferentes em seqüências ordenadas. A idéia, é juntar num único material, diferentes características para obtenção de melhores resultados.


Diversos copolímeros nasceram na década de 50, mas sem sombra de dúvida, o mais importante deles, foi chamado de ABS (Acrilonitrila - Butadieno - Estireno). Peças em ABS são moldadas a partir de injeção por matéria prima granulada, que além da alta precisão nas medidas, ainda permite alto índice de automação na produção. Além dessas características, ABS ainda tem uma resistência enorme à abrasão, o que minimiza bastante a ocorrência de riscos superficiais.


A primeira empresa a adotar ABS na fabricação de canetas, foi a Parker, que em meados da década de 60, começou a mudar canetas fabricadas originalmente em poliestireno para ABS.


A legendária Parker 51, não ficou de fora. A última geração, denominada Parker 51 MkIII, passou a ser fabricada em ABS, sofrendo inclusive mudanças em suas formas originais. Atualmente, todas as canetas da Parker, utilizam ABS.


Outro material notório, é o POLICARBONATO. Embora concebido há muito tempo, só começou a ser produzido maciçamente pós década de 70. Excelente material para transparências. Atualmente muito utilizado em janelas de visualização de nível de tinta e em canetas do tipo "demonstrator".



domingo, 3 de julho de 2011

Materiais - Polímeros (Segunda Geração)

Se no final do século XIX os polímeros eram materiais raros e exóticos, a Segunda Guerra Mundial trouxe ao mundo tecnologias até então inimagináveis. A segunda geração dos polímeros, foi marcada por materiais que não mais eram descobertos ao acaso por inventores individuais. Os polímeros de segunda geração, tinham em geral a assinatura de grandes grupos industriais como DuPont, ICI, BASF etc.


Foi a era das resinas fenólicas (celeron, baquelite, fenolite e poliestireno), das poliolefínicas (polietileno, polipropileno) e das acrílicas (polimetil metacrilato).


Nem todos foram utilizados em canetas, portanto vou falar apenas dos mais importantes.


Baquelite


Descoberto em 1909 pelo químico Leo Bakeland, é um polímero fenólico, ou seja, seu monômero básico é um composto de fenol, um álcool do anel benzênico. Baquelite, tem alta resistência química (ótimo para aguentar tintas corrosivas) e excepcional resistência térmica. Por essa razão, foi utilizado muito tempo em gabinetes de equipamentos eletrônicos valvulados, que trabalhavam a altas temperaturas.


Um lote de canetas Ingersoll (Reino Unido) em baquelite


Poliestireno


Um dos polímeros de maior sucesso de todos os tempos, o poliestireno inovou a indústria de polímeros duplamente. Em primeiro lugar, por ser um polímero derivado de resinas fenólicas e olefínicas, ou seja, o poliestireno é um polietileno onde há adição de um anel benzênico por monômero unitário. Em segundo lugar, por ser um polímero TERMICAMENTE moldável, o que permitiu a introdução do processo industrial denominado INJEÇÃO. O polímero, em forma granulada, é alimentado nas injetoras, que derretem o material, colorizam e injetam em moldes. O processo, é altamente automatizado, permitindo produção barata em larga escala.


A mais bem sucedida caneta fabricada em poliestireno, foi a legendária Parker 21, que ensinou milhões de pessoas no mundo a escrever.


Uma Parker 21 Super


Outro ícone da escrita, fabricado em poliestireno, foi a Parker Jotter, a primeira esferográfica de sucesso do mundo. 


A maior inconveniência do poliestireno, está no mau comportamento a baixas temperaturas. É comum encontrar canetas de poliestireno que trincavam espontaneamente, principalmente em países frios.


Polimetil Metacrilato


Desenvolvido no Reino Unido pela ICI (Imperial Chemistry Industries), o PMMA, mais conhecido como ACRÍLICO, teve como primeira aplicação de peso, a construção de parabrisas de aviões, onde ficou conhecido como PLEXIGLASS. Em função da elevada qualidade ótica - foi o primeiro polímero utilizado em lentes - recebeu também de sua criadora o nome comercial LUCITE.


Acrílico, tornou-se um dos polímeros mais bem conceituados de todos os tempos. É praticamente impossível falar desse material sem chover no molhado.


No universo das canetas tinteiro, um material tão superlativo, só poderia ter sido utilizado na mais importante caneta tinteiro de todos os tempos, a Parker 51.


Uma Parker 51 Vacumatic (foto: richardspens.com)


O advento do acrílico, propiciou ainda uma novidade para as canetas. A Parker, ainda durante a primeira geração das Parker 51 (as Vacumatic), fabricou em acrílico transparente, canetas que inicialmente não se destinavam à venda e sim como objetos de demonstração em revendedores. Eram as canetas "Demonstrator", que tinham como objetivo mostrar aos compradores o funcionamento interno da caneta.


Uma Parker 51 Vacumatic Demonstrator (foto: richardspens.com)

sábado, 2 de julho de 2011

Materiais - Polímeros (Primeira Geração)

Existe muita coisa escrita sobre caneta tinteiro. Curiosamente, um dos pontos onde mais bobagem é dita, é sobre os POLÍMEROS, materiais essenciais na maioria das canetas. É comum em fóruns e propagandas, quando se quer super valorizar uma caneta, dizer que ela é feita de RESINA. Quando em contrapartida pretende-se desvalorizar uma caneta, se diz que é feita de plástico. Em geral, os adjetivos "vagabundo" ou "barato", são anexados à palavra plástico...

Não sou favorável a mistificações e meias-verdades. Primeiramente, é necessário entender a palavra PLÁSTICO. Em Física, quando se estuda deformações, existem dois comportamentos de um material. Se o material após ser submetido a um esforço RETORNA à sua forma original, dizemos que o material é ELÁSTICO. Se em contrapartida, o material após ser submetido a um esforço sofre deformação e NÃO retorna à forma original, diz-se que o material é PLÁSTICO.

Os materiais popularmente chamados de plásticos, podem ter origem natural ou sintética. A principal característica desses materiais, é serem formados por extensas cadeias moleculares. Essa extensão, confere a eles interessantes características de resistência. Tais cadeias, são compostas de um elemento básico denominado MONÔMERO que se repete indefinidamente formando as cadeias que são denominadas POLÍMEROS.

Chamar um polímero de "resina" quando se pretende dar importância ao fato, é uma besteira descomunal. TODO polímero, simples ou sofisticado, caro ou barato, é constituído de uma RESINA (que contém os monômeros isolados) que passa por um processo denominado POLIMERIZAÇÃO, onde através da adição de um catalisador ou ainda de um processo térmico, tem seus monômeros "acoplados" formando as longas cadeias.

Ebonite

Antes de surgirem as canetas tinteiro, caneta era uma mera haste onde se encaixava uma pena descartável numa das extremidades. Essa haste, na imensa maioria das vezes, era de madeira. Algumas mais luxuosas, poderiam ser feitas em outros materiais mais nobres, como marfim, ébano, metais preciosos etc.

Mas as canetas tinteiro, precisavam ser feitas de um material que além de durável, fosse impermeável, pois o corpo da caneta, serviria como reservatório de tinta. Estávamos nesse momento, na segunda metade do século XIX, onde o estadunidense Charles Goodyear havia acabado de descobrir um processo pelo qual a seiva coagulada da seringueira transformava-se em borracha estável, a VULCANIZAÇÃO. A borracha era derretida e misturada com enxofre. Após esfriar, tínhamos borracha vulcanizada, que se tornava estável e não reativa com o oxigênio do ar. Durante as experiências, um dia o Sr. Goodyear errou na dose de enxofre colocando excesso do componente. Ao invés de obter borracha elástica, obteve um material escuro e duríssimo. Esse material após polido, adquiria um belo brilho negro acetinado, semelhante à madeira ébano (ebony em inglês). Estava criado o primeiro polímero rígido, que foi denominado EBONITE.

As primeiras canetas tinteiro, eram feitas de ebonite. Além do belo brilho, ebonite tem uma resistência química enorme, algo que foi muito bem vindo, pois as tintas de então, eram extremamente corrosivas e o corpo das canetas era o reservatório propriamente dito. Adicionalmente, ebonite é facilmente moldável por usinagem, ou seja, a partir de tubos ou tarugos (barras cilíndricas) sólidos, é possível fazer canetas por TORNEARIA.


Sri Pendurangan Ranga torneando as canetas Ranga em ebonite

As primeiras canetas portanto, eram invariavelmente pretas ou no máximo em algum tom de marrom muito escuro. A primeira tentativa bem sucedida de colorizar o ebonite, foi obtida pela Parker, que conseguiu produzir ebonite numa cor avermelhada. As canetas Parker Duofold fabricadas em ebonite vermelho, ficaram conhecidas como Parker Big Red, sendo cobiçadíssimas pelos colecionadores até hoje.


Uma Parker Duofold "Big Red" da década de 20 em ebonite verrmelho

Outras tonalidades foram obtidas e até mesmo padrões mesclados, mas um novo material surgiu, destronando o ebonite.

Até hoje entretanto, existem fabricantes que produzem belas (e caras) canetas em ebonite.


Uma Cleo Skribent (Alemanha, ex-oriental) moderna em ebonite (foto: cleo-skribent.de)



Celulóide

Nome comercial dado para o Acetato de Nitrocelulose, que era obtido a partir da CÂNFORA. O material já era conhecido como matéria prima para filmes fotográficos e cinematográficos. No quesito resistência química, perde feio do ebonite. Algumas tintas, simplesmente eram proibidas para canetas de celulóide. Perde ainda na resistência térmica (celulóide é altamente inflamável, quem assistiu ao filme "Cinema Paradiso" sabe...). Qual a vantagem então sobre o ebonite??? BELEZA!!! Canetas de celulóide, podem ter muito mais cores e o celulóide após o polimento, tem um brilho belíssimo. Havia ainda o celulóide laminado, que consistia de um material obtido por várias camadas coladas de celulóide de cores diferentes, com interessantes efeitos visuais.

Uma Parker Vacumatic (década de 30) em celulóide laminado


Celulóide, reinou absoluto até a Segunda Guerra Mundial. A partir daí, novos polímeros assumiram a ponta dessa corrida.


Uma moderna Pelikan Souverän M800 em celulóide translúcido

Mas da mesma forma que ocorre com ebonite, celulóide AINDA tem aplicação e algumas canetas bastante sofisticadas (como a série Souverän da Pelikan), ainda utilizam celulóide em sua fabricação.

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