quinta-feira, 30 de junho de 2011

Abastecimento - Cartuchos e Conversores

As canetas esferográficas estavam chegando. Apesar da baixa confiabilidade e ainda da desconfiança de muitos, estava claro que a operação de abastecê-las não chegava nem perto da dificuldade do abastecimento de canetas tinteiro. Sem falar na freqüência do reabastecimento. Enquanto uma caneta tinteiro precisava ser reabastecida em freqüência quase diária (conforme o uso...), para uma esferográfica bastava trocar uma carga a cada "n" meses... Isso se não fosse uma caneta descartável...


Nesse cenário, uma velha idéia ainda não experimentada, voltou à tona. Os cartuchos!!! Pequenos tubos lacrados contendo tinta, que ao serem encaixados nas canetas, rompiam o lacre permitindo que seu conteúdo fluísse para o alimentador e a pena. Simples, prático e limpo.


A primeira marca a apostar tudo nos cartuchos, foi a japonesa Platinum. Vários fabricantes pelo mundo a fora aderiram à idéia. Nos EUA, Sheaffer, Parker e Esterbrook acabaram por embarcar na "nova onda". A Parker, foi a última, pois não via a idéia com bons olhos. Seu primeiro lançamento, foi a Parker 45, um projeto nascido na empresa Eversharp que acabara de ser encampada. O próprio número/modelo, foi inspirado nas pistolas Colt 45, que eram municiadas semi-automaticamente por cartuchos.


No início da década de 60, a Parker lançou a legendária Parker 51 em versão a cartucho, rechaçada pelo fiel público. A "Cartridge 51", não completou três anos no mercado.


Medidas


O que nasceu para simplificar a vida do consumidor, acabou por criar um novo problema. Como cada empresa criou seus próprios cartuchos, não se demorou a perceber, que cada marca seguiu um rumo. Um cartucho, é dimensionado basicamente por duas medidas, o diâmetro do canal de alimentação e o comprimento. Um cartucho Parker, tem canal de 1/8" (um oitavo de polegada). A Sheaffer, criou cartuchos de 3/32". A Esterbrook, criou cartuchos de 3/16", mas fornecia seus cartuchos com adaptadores que permitiam o uso em canetas Sheaffer e Parker.


No Japão, a padronização não vingou. Pilot seguiu um rumo e Platinum outro. Medidas totalmente diversas.


Na Europa, o panorama foi diferente. O padrão adotado pela quase totalidade dos fabricantes, foi o canal de 3 mm de diâmetro, que ficou conhecido como MEDIDA INTERNACIONAL. Atualmente, é internacional mesmo, pois também foi adotada pelos fabricantes chineses.


Reabastecendo


Cartuchos, apesar da praticidade, têm uma péssima relação custo/benefício. No preço de um cartucho, apenas 20% é valor de tinta, o restante é o preço do material do cartucho e do processo industrial. É um preço alto a se pagar pelo conforto. Muitos usuários, reabastecem o cartucho utilizando uma seringa de injeção e tinta de tinteiro. É o que se chama de GAMBIARRA, mas barateia o processo. Outra boa justificativa para o reabastecimento, é que algumas marcas de canetas e cartuchos, não são mais fabricados, restando o reabastecimento como única alternativa


Conversores


Alguns usuários, nunca aceitaram a idéia de usar cartuchos. Mas num momento onde a Parker 45 era uma novidade bastante cobiçada, mesmo quem não aceitava os cartuchos, não queria ficar de fora. Os fabricantes tiveram então a idéia de criar os CONVERSORES, que são bombas que podem ser adaptadas às canetas encaixando-se da mesma forma que os cartuchos. Os primeiros conversores, eram tubos dotados de ink sacs. O padrão quase universal para conversores nos dias de hoje, é o sistema de êmbolo de acionamento giratório.


Uma caneta com o cartucho instalado e o respectivo conversor


Com essa quase-padronização, qualquer caneta a cartucho hoje, tem conversores como opção, e talvez a maioria já seja fornecida com o conversor. É comum, as publicações atuais se referirem às canetas de cartucho, como canetas C/C (Cartucho/Conversor).


Adaptando


Algumas canetas, nunca tiveram conversores disponíveis em sua medida, apenas cartuchos. Outras, utilizam conversores que não são mais fabricados. Outras ainda, utilizam conversores de difícil obtenção. Abaixo, duas adaptações que fiz, a primeira é uma Faber 66 (brasileira), que utilizava cartuchos. Hoje, nem a caneta nem os cartuchos são mais fabricados. A segunda caneta, é uma Platinum PE-500, que utiliza uma medida proprietária, de difícil obtenção no Brasil. Ambas estão hoje equipadas com conversor Sheaffer, adaptado para suas medidas. Funcionam com perfeição...


Faber 66 (brasileira) com conversor Sheaffer adaptado

Platinum PE-500 (Japão) com conversor Sheaffer adaptado






quarta-feira, 29 de junho de 2011

Abastecimento - Vácuo

Por definição, vácuo é falta absoluta. Mais usado para se definir falta de ar num recipiente/local. O vácuo absoluto, não é encontrado nem no espaço sideral, mas para efeitos práticos, sempre que se retira ar de um recipiente, produz-se vácuo.

Se retiramos ar de um recipiente e a seguir ligamos esse recipiente a um frasco de líquido através de um tubo, a pressão dentro do recipiente é menor que a pressão atmosférica. Para igualar, a atmosfera empurra o líquido do reservatório para dentro do recipiente até que a pressão interna do recipiente esteja igual à pressão atmosférica.

Se o frasco de líquido é o tinteiro e o recipiente é o reservatório da caneta, acabamos de criar uma caneta com abastecimento a vácuo, ou "vacuum filler" ou ainda "vac fil".

Vários sistemas desse tipo, foram concebidos, fabricados ou mesmo testados, mas dois em particular, merecem atenção.

1. Parker Vacumatic: Sistema concebido para a caneta Parker Vacumatic na década de 30 e usado também em alguns modelos da Parker Duofold e mais tarde nos primeiros modelos da Parker 51. O sistema Vacumatic, consiste de um diafragma acionado por botão. Esse botão, da mesma forma das antigas button filler, também é localizado no final do corpo e protegido por uma "tampa cega". Diferentemente do button filler, o botão aqui não comprime mecanicamente um ink sac e sim aciona um diafragma, que expulsa o ar do interior da caneta. O botão, por efeito de mola retorna à posição de repouso, trazendo o diafragma. Nesse momento, a pressão interna do reservatório da caneta diminui, criando vácuo. A pressão atmosférica faz o restante do trabalho, empurrando a tinta do tinteiro para dentro do reservatório. Há ainda, um tubo de respiro, que permite igualar a pressão interna e externa ao final da manobra. O truque está em expulsar o ar rapidamente, mas permitir que a tinta entre mais rápido que o ar na sucção.


Uma Parker 51 Vacumatic Demonstrator - foto: parkercollector.com

2. Sheaffer Vac Fil: Concebido pela Sheaffer e utilizado por outros fabricantes também, é um sistema bastante engenhoso. Há um êmbolo dentro da caneta, acoplado a uma longa haste. Desrosqueado a extremidade posterior do corpo, puxa-se essa haste totalmente. Como há um anel de vedação na passagem da haste para o exterior, o ar contido atrás do êmbolo, é obrigado a passar pelas laterais do êmbolo, o que é possível, pois o corpo do êmbolo além de elástico, é também ligeiramente cônico (maior diâmetro na parte de baixo). Nesse momento, a caneta deve ter sua pena mergulhada na tinta. O próximo movimento, é empurrar totalmente o êmbolo e aguardar o abastecimento... Mágica? Quase... Ao empurrar o êmbolo para baixo, produz-se váculo atrás dele, pois o local que continha pouco ar, expande-se em volume. Quando o êmbolo está próximo ao ponto inferior, ele passa por uma região do reservatório, onde o diâmetro é maior. Nesse momento, a região de baixa pressão atrás do êmbolo, se comunica com a região abaixo através das laterais do êmbolo. A pressão atmosférica, empurra então a tinta que sobe para o reservatório da caneta, passando pelas laterais do êmbolo.


Uma TWSBI Vac Fil - Demonstração de abastecimento


Vantagens e Desvantagens: Os sistemas de sucção a vácuo, são bastante eficientes, ou seja, é possível encher a caneta rapidamente com ocupação quase total do reservatório em um número mínino de acionamentos (no caso das vac fil, apenas um acionamento). A principal desvantagem, está na complexidade e na necessidade de absoluta vedação. A TWSBI do vídeo acima, é uma caneta moderna, que ainda não está a venda. Emprega tecnologias modernas de vedação, que prometem combater o principal problema que as vac fil antigas apresentavam, ou seja, vazamentos no retentor da haste (vedação da passagem da haste pelo corpo). O modelo está em testes há mais de um ano...

terça-feira, 28 de junho de 2011

Abastecimento - Êmbolos

Por mais práticos e seguros que fossem os sacos de borracha, sempre houve muita crítica em relação à capacidade do sistema. Os ink sacs não podiam crescer indefinidamente, pois quanto maior fosse o volume, menor era a eficiência. Na prática, ink sacs com mais de 6 mm de diâmetro, são praticamente impossíveis de serem completamente cheios, pois o peso da tinta tentando descer, provoca diminuição da pressão interna no ar que sobra lá dentro.


Uma alternativa foi então proposta, para solucionar esse problema pelo húngaro Theodor Kovacs em 1925. Kovacs propôs uma caneta onde o próprio corpo era o reservatório. Em seu interior, há um êmbolo que é completamente baixado (em direção à pena) zerando o espaço do reservatório. Ao ser puxado para cima, o êmbolo succiona a tinta para dentro do reservatório. Idéia semelhante ao uma seringa de injeção, mas o êmbolo não é movido por ação direta e sim através de um engenhoso sistema de parafuso.


Uma Faber Estudante Demonstrator (brasileira) da década de 60




Para entender o funcionamento, vamos definir o conceito de PASSO DE ROSCA. O passo de um parafuso, corresponde ao deslocamento linear dele a cada volta completa. Se um parafuso avança 2 mm a cada volta, dizemos que tem um passo de 2 mm.


O sistema idealizado por Kovacs, trabalha com duas roscas de passos bem diferentes. A rosca do manípulo (a extremidade do corpo que é desrosqueada pelo usuário), tem um passo bem curto. Após duas ou três voltas, abre no máximo 4 mm. Dentro da caneta, a haste do êmbolo, tem uma rosca com passo bem mais largo, que avança duas a três vezes mais que a rosca do manípulo. Desrosqueando-se um pouco o manípulo, o êmbolo desce até o final de seu curso.


Nesse momento, a pena da caneta é mergulhada na tinta. Ao rosquear novamente o manípulo, o êmbolo sobe succionando a tinta. Na foto acima, da Faber Estudante, é possível visualizar ambas as roscas. Observe a fina rosca do manípulo e a larga rosca do êmbolo.


Kovacs entretanto, não chegou a fabricar canetas. Quem viabilizou sua idéia, foi a empresa alemã Pelikan, que tornou o "piston filler" um dos sistemas mais conceituados do mundo. Outra empresa alemã, a Montblanc, também se tornou notória pelo uso do sistema.


Vantagens e Desvantagens


Os entusiastas do sistema, cantam a plenos pulmões a maior capacidade de tinta que as piston fillers possuem em relação aos sistemas de ink sac. Na prática, essa capacidade superior, exibe controvérsias. Observe na foto acima, que o êmbolo está na posição totalmente recuada, ou seja, o reservatório está totalmente cheio. Nessa posição, percebemos que há uma ENORME perda de espaço que é tomado pelo mecanismo do êmbolo.


Considerando reservatórios cilíndricos, quando se DOBRA a altura de um cilindro, dobra-se sua capacidade. Se ao invés de dobrarmos a altura, o diâmetro for dobrado, a capacidade se QUADRUPLICA. Até aí, tudo bem... Entretanto, das canetas mais finas até as mais grossas, o diâmetro não chega a dobrar. Canetas piston filler de corpo fino, tendem a ter MENOR CAPACIDADE em relação a canetas com reservatório de borracha. A virtude do aumento portanto, não está no sistema e sim nas dimensões.


A maior desvantagem das piston fillers, está na maior fragilidade. Se o corpo se trinca, os vazamentos inviabilizam o uso da caneta, algo que não ocorre nas canetas com reservatório de borracha.


Variações


Duas variantes do sistema são notórias. Uma delas, é adotada pela empresa paquistanesa Dollar Pens. Nas canetas Dollar, a extremidade da caneta não é o manípulo de acionamento do êmbolo e sim apenas uma capa. Removendo essa capa, o manípulo está disponível internamente.


Uma Dollar Student Pen (Paquistão)


A segunda variante da idéia, é o sistema de êmbolo de acionamento giratório que se tornou popular nos países da "cortina de ferro". O sistema, foi criado pela empresa checa Centropen. Consiste de uma bomba que funciona da mesma maneira, mas ela fica do lado de dentro da caneta. Ao remover-se o corpo, há acesso ao sistema interno.


Uma Centropen 3770 (Czechoslovakia)


A maioria das piston filler, tem ainda mais uma característica interessante. Na porção inferior do corpo, próximo ao ponto onde a tampa se encaixa, costuma ser instalada uma janela em polímero transparente, que permite visualizar se há tinta na caneta e também a extremidade do êmbolo quando ele é totalmente baixado.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Abastecimento - Ensacando a tinta

No princípio do século XX, a borracha era um material inovador. Não demorou muito e os projetistas perceberam que se poderiam usar uma bomba de borracha num conta-gotas para abastecer a caneta, essa bomba poderia ser EMBUTIDA na caneta fazendo as vezes não só de bomba de sucção como ainda ser o próprio reservatório.


Esse reservatório de tinta, chamado pelos estadunidenses de "ink sac", era duplamente conveniente. Poderia ser usado como a própria bomba de abastecimento e ao mesmo tempo ser suficientemente seguro, pois em caso de  queda, um reservatório de borracha tem chance zero de se romper.


Mesmo que o reservatório ficasse protegido dentro do corpo da caneta, ainda era necessário protegê-lo de acionamentos involuntários. Usuários, muitas vezes por mera curiosidade, abrem o corpo da caneta e uma pressão mínima que seja sobre o reservatório de borracha, provoca sujeiras.


Nos primórdios, alguns fabricantes bolaram estratégias incríveis para o acionamento do ink sac. Uma das mais bizarras, era manter uma fenda no corpo da caneta que dava acesso direto ao interior, pressionando com uma MOEDA... Felizmente, os fabricantes se esforçaram por desenvolver soluções mais eficientes e técnicas. Vamos a elas:


1. Button Filler: Sistema desenvolvido pela Parker, consiste de um par de lâminas paralelas ao ink sac dentro do corpo da caneta. Uma das lâminas, fica encostada no corpo por dentro. A outra lâmina, tem uma ponta presa na primeira lâmina e a outra ponta conectada a um botão que fica do lado de fora do corpo, protegido por uma pequena tampa que é retirada na hora do abastecimento. Pressionando o botão, a segunda lãmina é empurrada pra dentro. Como não pode avançar longitudinalmente, ela "embarriga", pressionando o ink sac. Esse fenômeno de "embarrigamento" de uma lâmina pressionada longitudinalmente, é chamado em Física de FLAMBAGEM. Embora seja um sistema bastante confiável, caiu em desuso.


Uma Long Life (China) button filler

2. Lever Filler: Esta, foi invenção da Sheaffer. Uma alavanca pivotada na lateral do corpo, ao ser acionada, pressiona uma lâmina que pressiona o ink sac. Já falei especificamente sobre as lever fillers NESSA postagem.


Uma Esterbrook SJ


3. Barra Direta: Sistema consagrado pela Parker 51, a mais famosa de todas as canetas tinteiro. O sistema de barra direta, consiste de uma mola laminar que ao ser pressionada com os dedos, comprime diretamente o ink sac. Um dos sistemas de abastecimento mais confiáveis existente. O funcionamento é totalmente intuitivo. A Parker, adotou uma borracha à base de PVC em seus ink sacs, que não raramente, chegam a durar mais de 50 anos...


Uma Parker 21 Super


4. Twist filler: Literalmente um sistema de torção. Através de um botão externo, o ink sac ao invés de ser comprimido, era torcido, o que causava expulsão de ar de seu interior.


Uma Esterbrook J "twist filler" (foto: esterbrook.net)


5. Pneumáticas: A Sheaffer, sempre foi muito criativa quando se trata de inventar novos e revolucionários sistemas. Procurando aperfeiçoar os sistemas ink sac, a Sheaffer atacou o principal ponto falho. Qualquer sistema do gênero, apresenta desgaste da superfície do ink sac, pois sempre há contato de alguma peça metálica contra o ink sac. A idéia da Sheaffer, era comprimir o ink sac sem contato manual... Como? Simples...


A caneta é provida de um êmbolo oco, que envolve a câmara onde está o ink sac. A extremidade traseira do corpo, ao ser desrosqueada e puxada, expõe o êmbolo que deve ser completamente puxado até parar. A pena é então mergulhada na tinta e o êmbolo deve ser empurrado novamente até o final e novamente rosqueado. Esse movimento, aumenta a pressão dentro da câmara do ink sac que se comprime. Cessada a pressão, o ink sac começa a se expandir succionando a tinta.


Anúncio de uma Sheaffer Touchdown mostrando a caneta pronta para o abastecimento.


Dois sistemas foram desenvolvidos pela Sheaffer, o mais simples, denominado Touchdown e um sistema um pouco mais complexo, denominado Snorkel. Quando se desrosqueia o manípulo traseiro nas Snorkel, além do êmbolo ser liberado, o snorkel é ejetado abaixo e além da pena. Para abastecer, utiliza-se um procedimento semelhante ao Touchdown, diferindo apenas no fato de que só o snorkel precisa ser mergulhado na tinta. A pena permanece seca e limpa.


Anúncio da Sheaffer mostrando um snorkel em posição de abastecimento.


A principal vantagem desses sitemas pneumáticos, é o aumento de durabilidade do ink sac, que não tem nenhum contato de nenhuma parte cortante ou abrasiva. A principal desvantagem, é a maior complexidade e a existência de anéis de vedação que ao perderem a eficiência, diminuem a capacidade do sistema até que o bombeamento não ocorra mais.



sexta-feira, 24 de junho de 2011

Abastecimento - As origens

Diz a lenda, que a primeira caneta tinteiro, nasceu de um acidente... O corretor de seguros estadunidense Lewis Waterman, teria perdido um cliente, pois seu tinteiro tombou sobre uma apólice e o cliente teria preferido fechar o negócio com um concorrente de Waterman ao invés de esperar a lavratura de uma nova apólice...

A idéia básica, era transportar um pequeno volume de tinta dentro da caneta. Ao invés de mergulhar a pena num frasco a cada duas ou três palavras escritas, a caneta teria um corpo oco que seria cheio de tinta. Dispositivos adicionais, dosariam o transporte da tinta para a pena de forma que ela não se esvaísse de uma só vez.

As primeiras canetas tinteiro, não tinham sistema próprio de abastecimento. Eram desmontadas e a tinta era injetada em seu interior com um conta-gotas. Esse primeiro sistema de abastecimento, ficou conhecido como "Eyedropper", que significa conta-gotas em inglês.

Por incrível que pareça, canetas eyedropper são fabricadas até os dias atuais e são preferência nacional da Índia. Por mais anacrônicas que possam parecer, as eyedroppers, são insuperáveis em capacidade, pois o corpo da caneta sem nada dentro, tem uma capacidade enorme. A confiabilidade também, é enorme, pois a caneta simplesmente NÃO TEM um sistema que é o mais freqüente em problemas.

Uma eyedropper típica do início do século XX

Mas apesar da confiabilidade e autonomia, a idéia que norteou a criação das canetas tinteiro, era a independência, ou seja, deveria ser possível que a própria caneta fosse capaz de succionar tinta do tinteiro para dentro de seu próprio reservatório sem a necessidade de acessórios ou ferramentas especiais.

Uma moderna eyedropper indiana, marca Ratnam

Alguns usuários atualmente, por saudosismo ou curiosidade, fazem CONVERSÕES, ou seja, transformam canetas modernas, em geral com abastecimento a cartucho, para operarem como eyedroppers. A conversão mais popular, é feita com a caneta japonesa Platinum Preppy. A Preppy, é uma caneta barata (custa menos de US$ 3.00 no mercado internacional), dotada de uma pena excelente, precisa e macia. A caneta tem um corpo transparente feito em policarbonato, que permite acompanhar facilmente o nível de tinta. Uma Platinum Preppy convertida para eyedropper, comporta tinta equivalente a QUATRO cartuchos Parker (os maiores da atualidade).

Uma Platinum Preppy 03 convertida para eyedropper







quinta-feira, 23 de junho de 2011

A Pena (III)

Na postagem "A Pena (II)", falei sobre os materiais construtivos de penas. Mas se a pena é o coração de uma caneta tinteiro, eu diria que a PONTA da pena, é o coração da pena... Novamente, um pouco de história... As penas de mergulho, tinham suas pontas "afiadas" em ângulos pré-determinados em função das características que deveriam ter. Algumas penas de mergulho, tinham suas pontas modificadas em formatos extremamente exóticos para a obtenção de efeitos especiais de traço.


Essas penas, de uma forma geral, escreviam riscando o papel. A sensação de pena arranhando, era sempre presente. Pela própria definição física de PRESSÃO, quanto mais fina fosse a ponta de uma pena, mais ela arranharia o papel. Esse era um - triste - fato do qual não se poderia fugir.


Conforme a pena se desgastava contra o papel e também conforme a corrosão provocada pela tinta ia aumentando, a pena ficava cada vez mais intratável, até chegar a hora onde a pena era simplesmente jogada no lixo. Uma nova pena era encaixada na caneta e a vida continuava. Por essa razão, as penas de escrita eram vendidas em embalagens com VÁRIAS unidades. Não raramente, um estudante começava um ano letivo com uma embalagem de CINQÜENTA penas e precisava repor seu estoque ainda antes do final do ano letivo.


Se o advento das canetas tinteiro apontou na direção de uma caneta mais prática, também tornou obrigatória a idéia de que a pena deveria DURAR MUITO MAIS que as velhas penas de mergulho.


Ainda no tempo das penas de mergulho, foi experimentada uma idéia que deu certo e tornou-se o padrão para as canetas  tinteiro. Na extremidade das penas, seria engastada uma "bolinha" (o formato não é necessariamente esférico, porém...) feita em material muito mais duro que o aço e extremamente polida para não comprometer a maciez de deslizamento no papel. Esse material, deveria ser duro o suficiente para agüentar a agressão do papel e quimicamente resistente à agressão corrosiva das tintas.


O elemento mais utilizado e mais bem sucedido, foi inicialmente o IRÍDIO. Descoberto em 1804, o Irídio é um elemento químico do grupo VIIIb da tabela periódica, da mesma família da platina. Seu nome deriva do latim iris (arco-íris), em razão das diversas cores dos compostos químicos baseados nele. É o metal mais resistente à corrosão que se conhece. Branco, duro e quebradiço, só perde em massa específica do ósmio. É praticamente insolúvel em ácidos.


Por essa descrição, concluímos que é o metal perfeito para pontas de pena, não fosse o fato de que é EXTREMAMENTE RARO NA NATUREZA... Raro, rima com CARO... O Irídio, tem extrema facilidade de formar ligas com o Ferro. Em priscas eras, quando ainda não havia vida no planeta, o Irídio que era ABUNDANTE, combinou-se com o ferro e "mergulhou" para o núcleo do planeta, tendo sobrado uma ínfima quantidade na superfície. A produção anual de Irídio, não chega a 3 toneladas...


Esse fato levou a indústria a tentar outras soluções. A mais simples, foi a criação das penas com ponta SEM inserção de metal duro. O maior expoente dessa tecnologia, foram as penas Esterbrook das séries 1xxx e 2xxx. As pontas dessas penas, tinham "excessos" laterais que eram dobrados para baixo. Após a dobra, essas pontas eram modeladas, polidas e tratadas termicamente (têmpera), de forma a obterem as mesmas características de maciez e durabilidade de pontas com "insert" de metal duro. Por incrível que pareça, essa tecnologia chegou bem perto de atingir o objetivo. Atualmente, apenas a empresa "Dollar" (paquistanesa) utiliza essa tecnologia em suas penas.


A segunda idéia, foi a utilização de outro material, tão resistente quanto o Irídio porém mais barato e de fácil obtenção. A resposta, foi o CARBETO DE TUNGSTÊNIO SINTERIZADO, popularmente conhecido como Widia. Muito utilizado em pontas de brocas para furar concreto, na forma de "insert" de ponta de pena polido, atende às necessidades atuais sem problemas.


Outro material que vem sendo bastante usado, mas atinge preços estratosféricos, é o RÓDIO.


De qualquer forma, Irídio virou mais do que um material. Hoje é praticamente um SINÔNIMO de ponta de pena de caneta tinteiro, mesmo quando não está presente...

A Pena (II)

Depois de analisar visualmente a pena, vamos abordar os detalhes construtivos. No tempo das penas de mergulho, usou-se vários materiais na sua construção. Penas de ganso endurecidas quimicamente, vidro, metais etc. Nas canetas tinteiro, as penas são feitas de ligas metálicas como regra geral. Uma liga, é uma "mistura" de metais puros que se destina a obter as melhores qualidades de cada um deles, ou ainda a obter novas qualidades que nenhum dos componentes tinha isoladamente.


De maneira geral, a maioria das penas atualmente são fabricadas em aço ou liga de ouro. Há ainda, materiais especiais como titânio, mas não vamos falar muito dos especiais.


Começando de trás pra diante, o ouro sempre foi um metal cobiçadíssimo. Por várias razões. Existem apenas DOIS metais puros na natureza, que têm cor não branca, o ouro e o cobre. Ambos são belíssimos ao serem polidos, mas apenas o ouro mantém sua cor e brilho por longo tempo, pois é pouquíssimo reativo com o oxigênio do ar. Embora o ouro forme óxidos, esse processo é demoradíssimo, levando décadas para acontecer. Tanto ouro quanto cobre, no estado puro, têm uma rigidez baixíssima. São metais bastante moles e isso por si, já os inviabiliza para serem usados em penas. Penas precisam obrigatoriamente ser elásticas e a baixa rigidez do material, o torna plástico.


Mas como o desejo de ter penas de ouro era maior que detalhes físicos do material, apelou-se para as ligas. Quem já comprou jóias, deve ser familiar com expressões como "quilate", "ouro alto", "ouro baixo" etc. Muito bem... Um quilate (abreviação kt), é uma unidade de medida de massa que corresponde a 0.2 g (5 quilates = 1 g). Quando se fala em ouro 24 kt, fala-se do OURO PURO, ou seja, em cada 24 quilates de material, há 24 quilates de ouro puro. Quando se fala em ouro 22 kt, significa que em cada 24 quilates de material, há 22 quilates de ouro puro (22 / 24 = 91.6% de ouro puro na liga). Ouro 18 kt é 18 / 24 = 75% de ouro puro na liga. Assim sucessivamente até o ouro mais baixo disponível comercialmente, que é o ouro 12, que tem apenas 50% de ouro puro na liga.


E qual é(são) o(s) outro(s) componente(s) da liga? Bem... Não há padronização para isso. Diferentes ourives, utilizam diferentes componentes e proporções nas ligas. De qualquer forma, a liga mais comum para penas de ouro, é a liga 14 kt (14 / 24 = 58.3% de ouro puro na liga). Alguns fabricantes, produzem penas em ouro 18 kt e existem casos onde se chega a ouro 22 kt. De qualquer forma, é importante lembrar, que o mais importante numa pena, não é seu valor em função do teor de ouro e sim a ELASTICIDADE, que é determinada pela liga correta.


Mas as penas de ouro, encarecem demais uma caneta e sempre houve a procura por barateamento, pois nem todo mundo queria uma caneta-jóia. Num tempo onde não havia canetas esferográficas, o desafio de baratear uma caneta tinteiro para popularizar seu uso, era bem grande.


Nesse panorama, surgiram as penas de aço inoxidável. Aço, não é exatamente uma liga e sim ferro enriquecido com um teor controlado e exato de carbono. As antigas penas de mergulho em sua maioria eram de aço. Como eram penas que se desgastavam e eram simplesmente descartadas, o principal inconveniente do aço que era a corrosão provocada pela tinta, deixava de ser problema. A ponta da pena se desgastava mais rápido do que o ataque da corrosão.


Como nas canetas tinteiro a pena não era descartável, foi necessário descobrir ligas de aço apropriadas para resistir ao ataque da corrosão. Aço inoxidável, já não era novidade e foi a idéia inicial. Aço, como foi dito, é ferro enriquecido de carbono. Se colocarmos outros elementos na liga (o principal é CROMO) em quantidades corretas, a corrosão é praticamente anulada. O cromo entretanto, endurece demais o aço, tirando dele sua elasticidade inerente. Dessa forma, mais elementos são acrescentados à liga para manter as características de elasticidade e não corrosão. A Parker, desenvolveu na década de 50, uma liga denominada OCTANIUM, que é um aço inoxidável composto de OITO elementos.


O aço inoxidável, foi uma excelente oportunidade para quem queria penas baratas, mas ainda assim não era visualmente agradável para quem gostava de ouro. A solução foi o acabamento denominado "banho de ouro", onde uma fina camada é depositada sobre a superfície da pena por um processo eletroquímico denominado GALVANOPLASTIA. Atualmente, existe mais um tratamento superficial do aço inoxidável, que o deixa "amarelado", é o banho por óxido de titânio, conhecido como "falsa douração", uma excelente opção para quem quer uma pena "amarela", uma péssima opção para quem gosta de ouro...


Para finalizar, a pergunta que vem sendo feita ao longo dos anos, mas que não encontra uma resposta definitiva: "Qual pena é melhor, de ouro ou de aço inoxidável?"... Boa pergunta!!! É mais ou menos como perguntar: "Quem é melhor, Corinthians ou Palmeiras?"... Aqui vai a MINHA opinião: CORINTHIANS!!!!!!!!!!!!!!!!! Ah... Vocês querem saber qual é a minha opinião em relação a material de pena... Tenho canetas (a maioria) com pena em aço inoxidável e canetas com pena de ouro. Pessoalmente, prefiro penas de BAIXA elasticidade. Para quem quer arriscar vôos como calígrafo, caneta tinteiro, NÃO É A MELHOR OPÇÃO. Nesse aspecto, elasticidade não é o objetivo final e sim uma característica importante apenas. Pessoalmente, prefiro penas de aço inoxidável.


Já vi muitos "especialistas" afirmarem que só as penas de ouro são boas. Não assino embaixo dessa opinião e chego a considerá-la como uma opinião de absoluta estupidez. Pena boa, é aquela que não arranha em NENHUMA posição e consegue ser macia na MAIORIA das posições. No ranking das minhas canetas, as penas de ouro vão aparecer lá pelo oitavo lugar...

terça-feira, 21 de junho de 2011

A Pena (I)

Que a pena é o coração da caneta, ninguém tem dúvidas. Ela pode ser exposta, embutida, plana, recurva, cilíndrica, pode ter/ou não insert de metal duro na ponta, pode ser mais rígida ou mais elástica, mas a maior discussão, ainda corre por conta dos materiais envolvidos em sua fabricação.


Em todo ramo que envolve paixão, é muito natural o surgimento de mitos e mentiras, que repetidos à exaustão, acabam virando meias verdades aceitas por muitos como verdades absolutas.


Não sou um Myth Buster das canetas tinteiro, mas sempre que posso, procuro rechaçar mitos e meias verdades. Pra começarmos, vamos a um pouco de teoria...


Em qualquer caneta tinteiro, a pena faz parte de um conjunto, composto pela própria pena e pelo alimentador, que é uma peça de polímero, quase sempre preta e quase sempre estriada, localizada abaixo da pena. O alimentador, possui em sua extensão, um canal que fica em contato com a pena e traz a tinta do reservatório. As dimensões do canal do alimentador, são suficientemente pequenas, para que a tinta não escorra sozinha. Na porção frontal do alimentador, o canal de alimentação entrega a tinta à pena, na posição onde a pena tem sua tradicional fenda, que "abre" a pena em duas partes.


Basicamente, essas duas "pernas" da pena (os estadunidenses chamam de "tines"), têm autonomia de movimento, ou seja, podem se movimentar independentemente uma da outra. Em algumas penas, há um furo no término da fenda e em outras não. Veja abaixo dois exemplos, com (Hero 5020) e sem o orifício (Parker Classic).

























Esse furo, é chamado por alguns de orifício de respiro, mas na prática, tem uma função muito mais simples: Penas que têm o orifício, são menos propensas a quebras longitudinais.


Muito do conforto e maciez da escrita, dependem da dureza de uma pena. O par de "pernas" da pena, é aos olhos da Física, um par de molas laminares de flexo-torção, ou seja, lâminas que apresentam ELASTICIDADE manifestada por flexão e torção simultâneas.


É um erro comum, denominar penas de alta elasticidade como penas FLEXÍVEIS. Essa terminologia entretanto, é INCORRETA.


De acordo com a Física, um objeto ao sofrer esforço, deforma-se permanentemente ou não. Se a deformação for permanente, o objeto é PLÁSTICO. Se a deformação for temporária, ou melhor, se o objeto recupera a forma original após cessar o esforço solicitante, o objeto é ELÁSTICO. A elasticidade, pode ser por FLEXÃO, TORÇÃO, TRAÇÃO, COMPRESSÃO ou ainda por uma COMPOSIÇÃO de modos.


Uma pena, é mais ou menos ELÁSTICA, podendo chegar a um ponto onde a elasticidade é praticamente zero, ocasião onde é denominada pena RÍGIDA.

Xing Ling?!?

Quando se fala em produto chinês, muita gente torce o nariz. Para muitos, produto chinês ainda é sinônimo de produto de baixa qualidade, fabricado às toneladas com materiais de baixa qualidade e com péssimo acabamento.


Mas para uma nação responsável pela invenção do papel, a escrita é algo tratado com veneração. O idioma chinês, utiliza caracteres denominados Han. Veja abaixo um exemplo de um caracter chinês:




Na imagem acima, o caracter está num tamanho muito maior do que o usual na escrita manual. Observem os micro-detalhes do caracter e imaginem como é escrevê-lo à mão num tamanho típico de caligrafia manual... Essa dificuldade, fez com que os chineses sempre preferissem escrever com PENAS ao invés de qualquer outro tipo de instrumento de escrita. O advento da caneta tinteiro, foi ainda mais aclamado no oriente do que no ocidente.


Até hoje, as canetas tinteiro são mais populares que as esferográficas na China. E a preferência nacional, são as penas EXTRA FINAS. Penas finas e extra finas, são tradicionalmente mais arranhantes do que as médias e grossas, mas os chineses fabricam penas finas e extra finas de excepcional maciez.


Caneta Long Life provavelmente da década de 40


Com o triunfo da Revolução, os chineses inspirados pelo líder Mao Zedong ("A China tem de aprender a andar com as próprias pernas!!"), começaram a fabricar suas próprias canetas tinteiro, para que a população chinesa pudesse usar as práticas canetas de pena que não precisavam ser freqüentemente molhadas no tinteiro. A Long Life, é uma caneta chinesa de primeira geração, de corpo fabricado em EBONITE (borracha rígida super vulcanizada).


As canetas chinesas modernas, por serem fabricadas em enorme escala, são exportadas a preços ultra convidativos e freqüentemente são a opção natural de quem quer começar a escrever com caneta tinteiro e não quer/não pode gastar muito.


Atualmente, o maior polo fabricante de canetas na China, é a cidade de Shanghai. O fabricante mais antigo e tradicional de Shanghai, é a Hero, que iniciou-se com maquinário de uma antiga fábrica da Parker localizada em Shanghai. Veja abaixo alguns modelos Hero bastante populares:


Hero 329: Caneta fortemente inspirada na Parker 61, tendo inclusive um insert em forma de flecha semelhante ao da Parker 61 sobre o shell da pena. A 329, é uma caneta de pena embutida disponível apenas em bitola FINA. Sua tampa é fabricada em aço inoxidável.


Hero 329


Hero 5020: Virtual cópia da Parker Sonnet. Disponível apenas em aço inoxidável escovado. Segundo muitos usuários de ambas as marcas, a Hero chega a ser mais robusta e macia de escrita que a inspiradora.


Hero 5020


Hero 001/360: Muitos acreditam, que as canetas chinesas são invariavelmente cópias de modelos ocidentais. Mas nem sempre é o que acontece. A Hero 001/360, é um bom exemplo. Tem uma engenhosa pena que permite a utilização em QUALQUER posição (daí o 360 do modelo...). A Hero 001/360, é totalmente construída em alumínio, sendo portanto incorrosível e extremamente leve.


Hero 001/360


Outro importante fabricante chinês, é a Jinhao, que fabrica as marcas Jinhao e Baoer. A empresa Jinhao é notória por modelos fabricados em latão (liga cobre/zinco) torneado com acabamento esmaltado. Canetas bastante pesadas, mas extremamente robustas e duráveis. Abaixo, uma Jinhao atípica...


Jinhao Missile: Uma micro caneta tinteiro. Tem menos de 10 cm de comprimento tampada e 14 cm com a tampa encaixada no corpo, posição aliás, obrigatória para que ela possa ser manuseada. Literalmente uma caneta de bolso.


Jinhao Missile


Muitos outros fabricantes chineses são notórios atualmente. Hero e Jinhao, são apenas os mais famosos. Para quem não tem preconceitos, as canetas chinesas hoje são uma excelente opção. Para quem procura marca famosa, arrisco afirmar que daqui a vinte anos, marcas como Hero, Jinhao, Baoer, Haolilai, Duke, Kaigelu etc., serão tão famosas quanto a Parker...





sábado, 18 de junho de 2011

Dêem-me um ponto de apoio e eu levantarei o mundo!

A frase acima, é atribuída ao físico grego Arquimedes, que com ela enunciou o princípio das máquinas simples, mais especificamente das ALAVANCAS. Vou falar um pouco sobre as canetas com abastecimento por alavanca, provavelmente um dos sistemas de abastecimento mais interessantes já inventado.

O sistema, foi concebido pela empresa Sheaffer (EUA) e patenteado em 1908. As canetas abastecidas por alavanca, ou "lever fillers", são essencialmente canetas com reservatório interno de borracha. Essa borracha, ao ser comprimida, expulsa o ar de seu interior, diminuindo a pressão interna. Quando essa compressão é interrompida, a pressão atmosférica empurra a tinta do tinteiro para dentro do reservatório.

Existem várias maneiras de comprimir esse reservatório de borracha. Aqui nas "lever fillers", a alavanca fica no corpo da caneta do lado de fora. Quando a alavanca é movida para uma posição perpendicular ao corpo, uma barra interna com mola, comprime o reservatório de borracha. Liberando-se a alavanca, ela retorna à posição de repouso por ação contrária da mola. Repetindo-se a operação mais algumas vezes, a caneta está abastecida.

O sistema de alavanca, foi extremamente popular até a década de 70, quando acabou caindo em desuso. Essa popularidade, deve-se principalmente a um fabricante estadunidense extinto, que encerrou suas atividades em 1972, a Esterbrook.

Uma Esterbrook J (foto: 777PenRepair)

Abastecendo com o sistema de alavanca


As lever fillers, têm ainda uma interessante marca... Provavelmente são as canetas tinteiro que apareceram com maior freqüência nos desenhos animados... No desenho de 1939 "Autograph Hound" (O caçador de autógrafos), o impagável Pato Donald passa o episódio inteiro fugindo de um segurança de estúdio que tenta evitar que ele importune os artistas em sua caça de autógrafos. Na cena final, ao descobrir que o intruso é o famoso Pato Donald, o segurança tenta pedir um autógrafo oferecendo seu cassetete, que transforma-se numa caneta tinteiro lever filler. O resultado é hilário. Está na última cena do curta. Veja no link abaixo:


"Autograph Hound" - Walt Disney Productions

Outra hilária aparição de uma lever filler, quando o gato Tom tenta conseguir uma assinatura do camundongo Jerry num termo de perdão:

"Heavenly Puss" - Hanna Barbera MGM


Diversos fabricantes além da Sheaffer e da Esterbrook se aventuraram no sistema de alavanca. Parker e Eversharp nos EUA e a prestigiada Conway-Stewart (Reino Unido) são exemplos clássicos. A Conway-Stewart tem modelos lever filler até os dias atuais.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Atrás da Cortina de Ferro

Expressões têm vida curta. Quando não utilizadas, vão sendo esquecidas até morrerem. Cortina de Ferro é uma delas. Com a queda do Muro de Berlim, a expressão foi caindo em desuso e hoje remete vagamente a memória a velhos filmes produzidos durante a Guerra Fria.


Mas mesmo nesses peculiares países, escrever era preciso e num tempo onde as canetas esferográficas ainda eram uma inusitada novidade, também foi necessário fabricar canetas tinteiro. Sempre fui muito curioso em relação às coisas da extinta União Soviética e de seus países aliados. Talvez por isso, tenha procurado saber mais a respeito das canetas tinteiro produzidas por eles e tenha hoje quatro exemplares em minha coleção. Vou falar um pouco sobre eles...


União das Repúblicas Socialistas Soviéticas: Seu mais famoso fabricante de canetas tinteiro, foi a Soyuz (СОЮЗ em russo). A fábrica ficava em Leningrado (hoje São Petersburgo) e tornou-se notória por fabricar canetas inspiradas nas Parker 51 e 61. A inspiração porém, era mais no visual do que no funcionamento. Os projetistas soviéticos sempre foram hábeis em aproveitar boas idéias adaptando-as e não raramente melhorando. O modelo mais famoso, é a 1950, inspirada na Parker 51 Vacumatic, mas com um sistema de abastecimento totalmente diferente e criativo. O sistema utiliza um reservatório de borracha sanfonada acionado por botão do lado de fora da caneta.


Uma Soyuz 1950

 


O sistema de abastecimento, na primeira foto em posição de abastecimento normal, com a mini-tampa posterior aberta. Na foto seguinte, o corpo desmontado expondo o reservatório de borracha sanfonada.


O clipe da tampa da 1950, foi desenhado num motivo "espacial", ou seja, tinha o formato de um foguete, tema muito em voga na década de 50 e do qual os soviéticos se orgulhavam muito. Vale notar, que a palavra Soyuz, significa UNIÃO em russo. Apesar do tema espacial, a cosmonave Soyuz, só surgiu no final da década de 60, logo a caneta Soyuz foi pioneira.


Nos anos 60, a Soyuz lançou o segundo modelo, inspirado na Parker 61. Novamente, uma inspiração apenas visual, pois o sistema de abastecimento tornou-se praticamente um padrão em todas as canetas tinteiro soviéticas até o fim da indústria. Tratava-se de uma bomba de êmbolo acionado por um manípulo giratório. Em outras palavras, embutida dentro do corpo, uma bomba semelhante às utilizadas nas canetas do tipo "piston filler".



Uma Soyuz 1960. Abaixo, detalhe do sistema de abastecimento

As Soyuz, até a década de 70, foram canetas fabricadas com excelente qualidade de acabamento e penas muito macias. Do final da década de 70 em diante, vivenciaram o fenômeno do sucateamento da indústria soviética. Em meados da década de 80, as canetas Soyuz não podiam mais ser levadas a sério...


Bulgária: País nem sempre muito lembrado (talvez agora, seja mais no Brasil, pela ascendência da presidenta Dilma Roussef...), a Bulgária tem a particularidade de falar um idioma eslavo semelhante ao Russo e também ser um dos países que emprega o alfabeto Cirílico, o mesmo utilizado pelo idioma Russo. Na Bulgária, era fabricada a caneta ПОБЕДА (transliterando: PÔBIÊDA = VITÓRIA). Fortemente inspirada na caneta alemã Pelikan modelo 150, a ПОБЕДА era também vendida com o nome ПЕЛИКАН que transliterado para o alfabeto latino fica... PELIKAN!!! Nas embalagens da ПЕЛИКАН, havia até mesmo o desenho de um pelicano... Esse "modelo", criou um mito de que a Pelikan teria mantido uma fábrica na Bulgária. Tal fato porém, nunca ocorreu.


Uma ПОБЕДА 63

ПОБЕДА, é uma "piston filler" autêntica. Desrosqueando a extremidade posterior do corpo, um êmbolo desce e aparece pela janela transparente próxima à rosca da tampa no corpo. A pena é então mergulhada no tinteiro. Rosqueando a extremidade posterior, o êmbolo "sobe" succionando a tinta para dentro do corpo-reservatório. Em outras palavras, o mesmo sistema de canetas sofisticadas como algumas Pelikan e Montblanc. A semelhança entretanto, morre aí. A maciez de acionamento do êmbolo e a alta qualidade das penas que se vê nas Pelikan, não existe nas ПОБЕДА. O acionamento da rosca do êmbolo é duro e a pena tem uma qualidade de escrita medíocre. Nunca tiveram um período de glória como as Soyuz...


Czechoslovakia: Automóveis, caminhões, motocicletas, armas, equipamento fotográfico e canetas da Czechoslovakia, sempre foram notórios pela excelente qualidade de fabricação. Os tchecos, sempre primaram por projetos exclusivos e criativos. Nunca seguiram tecnologia estrangeira e sempre provaram que seus produtos eram de alta qualidade. Nesse panorama, surgiram canetas extraordinárias como as Barclay e as Centropen. A fábrica Barclay, chegou a ser distinguida no início do século passado, como fabricante das melhores penas européias. A Barclay não sobreviveu à Segunda Guerra Mundial, mas a Centropen existe até hoje, na República Tcheca.


Atualmente, a Centropen fabrica dúzias de modelos de canetas esferográficas e lapiseiras. Eles ainda têm três modelos de canetas tinteiro para uso escolar.


Um dos últimos modelos Centropen anteriores à divisão do país, é a 3770, uma caneta que fechada lembra o design da Parker 45, mas aberta revela um projeto totalmente diferente, com uma pena de formato totalmente original e sistema de abastecimento por bomba de êmbolo de acionamento giratório (quase idêntico à Soyuz 1960). Embora utilize materiais bastante simples, a Centropen 3770 é uma caneta ultra resistente e sua pena é de uma maciez de escrita exemplar.


Uma Centropen 3770


Outros países da "cortina de ferro", como a Alemanha Oriental e a Hungria, também fabricaram suas canetas tinteiro. Futuramente, voltarei ao assunto...

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