Estão acabando as férias. Me lembrei do meu tempo de garoto. Fui alfabetizado no final da década de 60 com lápis e caneta tinteiro. Esferográfica naqueles tempos, era novidade. Até a década de 50, estudantes levavam para a escola penas de mergulho e tinteiros de encaixe. As penas de mergulho eram vendidas em embalagens com 20 até 100 unidades. Feitas em aço, não tinham ponta de metal duro. As tintas, bastante corrosivas destruíam rapidamente as penas que se tornavam irritantemente rascantes. A solução era descartar a pena e trocar por uma nova.
Os tinteiros de encaixe, eram cinturados em sua base para encaixar no tampo da carteira, num furo que lá existia. Estudei num colégio na cidade de São Paulo, que ainda tinha carteiras com esse furo. Certo dia inclusive, eu ganhei quinze "bottons" do Corinthians que cabiam bem justo nesse furo. Distribuí os "bottons" pela sala encaixando-os "na marra". Não saíam nem com reza. Como a maioria da turma era de sãopaulinos, a revolta estava garantida ;-)))
Carteira com furo para encaixar tinteiro
Nesse panorama, uma caneta tinteiro era a salvação da lavoura para um estudante. Ainda era necessário levar o tinteiro para a escola, pois a capacidade da caneta freqüentemente não era suficiente para um dia de aulas, mas o tinteiro ficava tampado e guardado sob a carteira, de maneira muito mais segura. Em geral, um reabastecimento no intervalo principal era suficiente para terminar a jornada.
As canetas tinteiro da década de 50 e 60, eram ainda consideradas instrumentos de luxo e os fabricantes perceberam que deveriam criar modelos simplificados para diminuir custos e torná-las acessíveis aos estudantes.
Apesar de baratas, precisariam ser obrigatoriamente robustas, pois a utilização escolar, é uma das utilizações mais severas que um instrumento de escrita pode experimentar.
Os principais fabricantes, optaram então por dois caminhos distintos. O mais simples, era fabricar edições barateadas de modelos mais caros. O mais complicado, era criar projetos exclusivamente desenvolvidos para utilização escolar.
Vamos ver alguns modelos de fabricantes famosos...
Parker
A década de 50, foi marcada como divisora de águas das canetas tinteiro. E o maior expoente dessa história, foi a legendária Parker 51. Uma Parker 51 entretanto, não era uma caneta para estudantes, em parte pela sofisticação demasiada, mas principalmente pelo preço, que fazia dela uma caneta distanciada da realidade da maioria dos estudantes. A Parker tentou inicialmente, baratear a Parker 51, lançando-a com pena de aço inoxidável, protetor de reservatório simplificado e com tampa cromada. O modelo foi denominado Parker 51 "Special", que apesar de mais barato, ainda era caro demais para uso estudantil. Pra não perder o bonde da história, a Parker tratou de criar uma caneta escolar. Visualmente muito parecida com a Parker 51, nascia a Parker 21, que diferia da "prima rica", por usar um polímero mais barato (poliestireno ao invés de acrílico), por utilizar um sistema de pena mais convencional (recurva em aço inoxidável ao invés de cilíndrica em ouro como a 51) e por ter um clipe de tampa sem a famosa flecha da Parker.
Uma Parker 21 MkII
Mas os estudantes queriam mais... Apesar do enorme sucesso da Parker 21, seus donos se ressentiam basicamente da falta do clipe em forma de flecha e também de uma pena cilíndrica como na Parker 51. Foi lançada então a Parker 21 Super, que continuou em produção até o ano de 1965.
Uma Parker 21 Super
No final da vida da Parker 21, havia ainda um modelo "Flighter" (corpo e tampa em aço inoxidável). A Parker 21 havia se tornado uma caneta mais cara e sofisticada. A Parker 45 que nasceu para ser uma caneta simples havia tomado seu lugar, sendo mais barata pois empregava técnicas de fabricação mais simples.
Pelikan
Fabricante alemão tradicionalíssimo, a Pelikan sempre foi notória por canetas de elevadíssimo padrão tecnológico, mas sua política de preços a afastava drasticamente das carteiras escolares. A Pelikan, optou então pela criação de linhas exclusivas para estudantes, sendo as mais famosas a linha Pelikano e a linha Go!
O sistema de abastecimento mais tradicional da Pelikan, era o famoso "piston filler", que pela complexidade encarecia demais uma caneta escolar. As Pelikano, por essa razão, eram quase que exclusivamente modelos a cartucho.
A Pelikan Go! M75 foi provavelmente a última "piston filler" escolar lançada pela empresa alemã. Era disponível também na versão P75, de design idêntico, mas com abastecimento por cartucho.
Uma Pelikan Go! M75
Johann Faber
Era o nome da subsidiária brasileira da empresa alemã Faber Castell. A Johann Faber, situada na cidade de São Carlos - SP, atualmente chama-se Faber Castell do Brasil. Fabricou excelentes canetas no Brasil. A mais famosa, foi a Faber Estudante. Tive uma que me acompanhou da quinta série até a faculdade. Era uma "piston filler" (na melhor tradição alemã...) com pena removível manualmente sem necessidade de ferramentas, bastando desrosquear para trocar ou para limpeza. Houve ainda uma segunda geração da Faber Estudante, com linhas mais retas e o mesmo sistema de pena removível e abastecimento "piston filler".
Uma Faber Estudante "demonstrator"
No início da década de 70, a Johann Faber, mudou radicalmente sua linha. Lançou a Faber 66, uma caneta mais sofisticada, com design inspirado na Parker 45 e com a pena muito semelhante à Sheaffer Skripsert (ambas modelos "escolares" das respectivas marcas). A Faber 66, era uma caneta abastecida a cartucho. Tinha corpo em polímero e tampa metálica em versões cromada e folheada a ouro. A versão escolar da Faber 66, era a Faber 56, idêntica em quase tudo, exceto na tampa que também era em polímero.
Uma Faber 66
Pilot
A prestigiada empresa japonesa, também fabricou canetas tinteiro no Brasil até meados da década de 70. Uma de suas mais conhecidas criações, foi a Pilot Juvenil, que como o nome não deixa duvidar, era uma caneta escolar. Tinha um design bastante avançado e abastecimento a cartucho. Uma das melhores relações custo-benefício que já tivemos em nosso país. Precisa, macia e barata.
Uma Pilot Juvenil
Dollar
Pouco conhecida no Brasil, a Dollar é uma empresa paquistanesa, que fabrica uma completíssima linha de material escolar. Fabrica canetas tinteiro baratas, praticamente todas voltadas para uso escolar. A mais emblemática delas, é um modelo denominado Dollar Student Pen. É uma "piston filler" com manípulo de acionamento interno. Sua tampa encaixa na extremidade posterior do corpo com um "clique" que impossibilita a perda da tampa. Simples, barata e praticamente à prova de bala. Custa no mercado internacional, menos de US$ 5.00.
Uma Dollar Student Pen