domingo, 20 de novembro de 2011

Nem só de tinta vive o homem (IV)

No início desta série, falei rapidamente sobre as lapiseiras de conjunto e prometi que voltaria ao tema. Então aqui estamos nós.


Os fabricantes famosos de instrumentos de escrita de alta qualidade, sempre se preocuparam em oferecer o máximo a seus clientes em termos de instrumentos de escrita. Dessa forma, uma família completa de instrumentos de escrita nos dias atuais, chega a ser composta por até QUATRO instrumentos, uma caneta tinteiro, uma caneta esferográfica, uma caneta esferográfica de carga líquida ("roller ball") e uma lapiseira.


Essas diferentes modalidades de instrumentos, podem ser vendidas separadas ou juntas. Quando vendidos juntos, formam um CONJUNTO.


No início entretanto, antes do advento das esferográficas, os conjuntos eram compostos por uma caneta tinteiro e uma lapiseira. Os fabricantes sempre tentaram manter os componentes do conjunto, tão parecidos quanto possível, mas nem sempre isso dava certo. Algumas lapiseiras, eram tão diferentes de sua caneta-conjunto, que simplesmente pareciam não ser um "casal".


Em outros casos, a semelhança é tão grande, que às vezes é necessário observar com bastante atenção para descobrir quem é quem. Vamos a algumas imagens...


Conjunto Parker 51 Vacumatic - Lapiseira "cap atuated" (ejetora por pressão)


Conjunto Parker 51 Aerometric Trio (tinteiro + lapiseira + esferográfica) - Lapiseira "twist" (ejetora por giro)

Conjunto Parker Classic (esferográfica + lapiseira)

Conjunto Parker Vector (tinteiro + roller ball + esferográfica + lapiseira)

Conjunto Esterobrook J





Nem só de tinta vive o homem (III)

Apesar da simplicidade de manuseio das "ejetoras", alguns fabricantes procuravam algo mais, ou seja, principalmente os fabricantes que desenvolviam lapiseira em conjunto com canetas famosas, procuravam integrar as lapiseiras ao design das canetas. Em muitos modelos, um botão de acionamento, não combinava com o design, dessa forma surgiu um novo modo de acionamento...

2. Lapiseira "Twist Action": Funciona de uma forma bem simples e intuitiva. Girando a "tampa" no sentido horário (visto por trás), o grafite avança, girando no sentido anti-horário, ele se recolhe. Este tipo, traz como vantagem única, o visual. Na prática, é uma lapiseira complicada de utilizar, pois não é auto alimentável como a propulsora. Quando o grafite acaba, não basta acionar até aparecer outra mina, é necessário girar totalmente o mecanismo no sentido anti-horário para recolher o propulsor interno. Feito isso, abre-se o reservatório interno, retira-se UMA nova mina que deve ser introduzida de fora pra dentro pela ponta. Ajusta-se a mina até que cerca de 2 mm fiquem expostos e pressiona-se o grafite contra uma superfície rígida para que o propulsor interno "encaixe" e o grafite fique firme no lugar. Com minas não muito finas (diâmetro mínimo de 0.7 mm), a coisa ainda vai bem. Com medidas como 0.5 mm por exemplo, perde-se muito material por quebra.


Uma Parker 51 twist

Outro tipo muito importante, também não pode ser esquecido. São lapiseiras que seguiram um caminho totalmente diferente das propulsoras e das twist...

3. Lapiseira "Lead Holder": É um tipo que foi muito comum para DESENHO TÉCNICO até a década de 70. Também conhecida nos EUA como CLUTCH PENCIL (lapiseira de mandril), retinha apenas UMA mina que ficava presa a um mandril na ponta, algo como um sistema de pinças. Ao apertar o botão traseiro, o mandril liberava o grafite que podia ser ajustado em comprimento. Diâmetros comuns de grafite para essas lapiseiras, eram o tradicional 2.0 mm, o 2.5 mm, o 3.5 mm e até uma medida super grossa usada em esboços artísticos, de 5.6 mm. Nas medidas mais finas, o botão traseiro tinha embutidas quatro lâminas que serviam como apontador para afiar a ponta do grafite.

Caran d'Ache Fixpencil (Suíça)- A primeira "lead holder" lançada na década de 20. Fabricada até hoje


Staedtler Mars Technico 780C (Alemanha) - A mais vendida de todos os tempos



 Koh-I-Noor Versatil (Rep. Tcheca) - A mais popular e barata (mas EXCELENTE...)


Koh-I-Noor Toison d'Or (Rep. Tcheca) - Idêntica à Versatil, mas com acabamento em preto


Nem só de tinta vive o homem (II)

As melhores e mais famosas marcas de lápis do mundo hoje, são Koh-I-Noor Toison d'Or (República Tcheca), Faber-Castell (Alemanha/Brasil), Caran d'Ache (Suíça), Conté (França), Cumberland (Inglaterra), só pra citar algumas poucas...


Mas minha paixão não foi propriamente pelos velhos (e bons...) lápis de madeira e sim por sua versão mais tecnológica, as LAPISEIRAS!!!


As primeiras idéias, datam do início do século XIX. A primeira patente de lapiseira por pressão de mola data de 1877.


Um fato interessante sobre lapiseiras, é que alguns fabricantes criaram modelos exclusivos, mas era prática freqüente de fabricantes famosos, criar lapiseiras que formavam CONJUNTOS com canetas famosas. A Parker por exemplo, sempre lançou lapiseiras de conjunto. Falarei delas ao final desta série...


Vamos aos tipos mais comuns de lapiseiras...


1. Ejetora de grafite: Como ficaram consagradas no idioma inglês, "Propelling Pencils". São lapiseiras com um reservatório interno de minas de grafite que se comunica com o exterior por um mecanismo de retenção na ponta. Ao se pressionar um botão ou ainda toda a parte posterior, ejetam a mina em incrementos mínimos. Ao cessar a pressão sobre o dispositivo, um mecanismo de retenção "trava" o grafite em posição de escrita. Esse é provavelmente o tipo de mecanismo mais popular da atualidade e está presente desde as medidas mais finas de grafite (0.3 mm) até a mais grossa para esse tipo (2.0 mm).


Lapiseira Esterbrook J grafite 1.1 mm - Uma típica lapiseira de conjunto

Lapiseira Pentel P205 grafite 0.5 mm - Um dos modelos de maior sucesso de todos os tempos

Koh-I-Noor Notebook grafite 2.0 mm - Uma "propelling" que usa grafite "apontável"


Nem só de tinta vive o homem (I)

Como já falei por aqui, esferográficas nunca me animaram. Mas minha primeira paixão de escrita, não foram as canetas tinteiro. Apesar dos estadunidenses estarem francamente intencionados em acabar com a grafia manuscrita, até hoje sempre que se alfabetiza uma criança, o primeiro instrumento de escrita que se fornece a ela, é o velho e bom lápis.


Por incrível que pareça, o lápis tem até data de nascimento... Foi na Inglaterra em 06 de abril de 1564 que se descobriu a primeira jazida de grafite. Já se escrevia com carvão, mas a substância recém descoberta, provou ser muito melhor para escrita. A adição de talas de madeira para reter a peça de grafite, foi praticamente imediata, pois a substância sujava as mãos, tornando a escrita uma tarefa um tanto difícil.


Em 1761, na Alemanha, Kaspar Faber inicia a produção industrial de lápis em Nuremberg.


Mas foi no ano de 1792 que o lápis tomou a forma que conhecemos hoje. Nasceu na Áustria, inventado pelo arquiteto Joseph Hardtmuth. Até então, o grafite era torneado para se transformar em bastões cilíndricos que eram "ensanduichados" entre duas metades de madeira coladas formando o lápis. Hardmuth criou um novo processo no qual uma massa era formada pela adição de óleos, argila e PÓ de grafite. Essa mistura secava a frio e tornou-se o grafite como conhecemos até hoje. A DOSAGEM de óleo e argila, permitia duas linhas de grafite, a linha "H" com teor baixíssimo de óleo e conseqüente maior dureza de a linha "B", com teores maiores de óleo e mais macia. A necessidade de grafites diferentes, só poderia ter sido resolvida por um arquiteto...


O ponto central, é o grafite "HB". Quando se avança para o lado do "B" (B, 2B, 4B etc.), o grafite vai ficando mais macio e "borrante". Quando se avança para o lado do "H" (H, 2H, 4H etc.), o grafite vai ficando mais duro e "cortante".


Esses dois senhores, fundaram empresas que entraram no negócio e estão firmes e fortes até hoje. A alemã, tornou-se a Faber-Castell. A austríaca, tornou-se a Koh-I-Noor, que alguns anos depois, mudou-se para a Bohemia (hoje parte da república Tcheca), pela maior disponibilidade de jazidas de grafite de boa qualidade.


A massa de grafite para escrita, teria continuado inalterada até hoje, não fosse uma empresa japonesa que substituiu a argila por polímeros especiais. Estou falando da empresa Pentel...

domingo, 13 de novembro de 2011

Frankenpen IV - Koh-I-Noor Rapidograph 1950 (Segunda Parte)

Para desmontar a Rapidograph, basta desrosquear a pena e desrosquear o conjunto da bomba de alimentação (a parte vermelha). O que sobra do corpo é um tubo que pode ser limpo e lavado sem qualquer dificuldade. A bomba de alimentação é um sistema "piston filler" clássico. Girando o manípulo, um êmbolo se desloca, succionando a tinta.


Tudo limpo e montado novamente, chegou a hora de abastecer a caneta. A capacidade do sistema, é enorme. Cheia de tinta, como em qualquer "piston filler", "devolvemos" quatro gotas de tinta para o tinteiro, para criar um espaço vazio dentro do reservatório. Esse vazio é necessário para evitar transbordamentos.


Na hora de escrever, veio a primeira decepção... A pena, além de arranhar bastante, é muito seca, ou seja, tem um canal de alimentação muito fechado, o que resulta num fluxo pobre de tinta.


Pesquisando a origem da caneta, me certifiquei de que realmente era uma caneta adaptada, no maior forum de canetas tinteiro da atualidade, o Fountain Pen Network. Lá, descobri ainda, que a rosca de montagem da pena, é EXATAMENTE IDÊNTICA à rosca da famosa marca Esterbrook. E eu tinha uma pena Esterbrook sobrando...


Era uma pena Esterbrook #2668, média e com fluxo bem mais generoso do que a pena Rover. Antes de experimentar a pena Esterbrook porém, tive de desmontar a tampa da caneta. Lembrem-se que a pena agulha original da caneta, é bem fina, portanto cabe dentro de qualquer tampa. A pena Esterbrook entretanto, tem laterais bem largas, mais largas que a pena Rover inclusive. Nessas circunstâncias, era necessário avaliar se a pena iria caber com a caneta tampada, sem risco de danificar/entortar a pena.







Como tudo na Rapidograph, a tampa também é desmontável manualmente. A "jóia" (extremidade fechada da tampa), é desrosqueável e removível. Nessa operação, o clipe sai junto. Numa única peça com a jóia, fica a "inner cap" (tampa interna), que mostrou ter diâmetro largo o suficiente para não entortar a pena Esterbrook (a segunda foto mostra o encaixe).


Equipada com a pena Esterbrook, a caneta ficou perfeita. Maciez, fluxo e traço perfeitos de uma pena Esterbrook aliados a uma capacidade de tinta enorme, que permite horas de escrita sem precisar reabastecer.


Ah! Ia esquecendo... Durante as pesquisas, descobri a razão do nome... Koh-I-Noor, é um dos maiores diamantes lapidados do mundo. Foi encontrado bruto na Índia e trazido para a Inglaterra, onde foi lapidado e hoje está instalado na coroa da Rainha Mãe. Diz a lenda que paira uma maldição sobre o diamante Koh-I-Noor... Qualquer homem que coloque a mão nele, morrerá em curto período de tempo. Apenas as mulheres estão imunes a essa maldição. Por via das dúvidas, na sala de tesouro da Torre em Londres, onde são armazenadas as jóias da coroa, há uma funcionária encarregada de cuidar do Koh-I-Noor. Nenhum, homem põe a mão nele...

Frankenpen IV - Koh-I-Noor Rapidograph 1950 (Primeira Parte)

Essa já chegou pronta na minha mão, fazia parte de um lote de canetas. Algo como uma limpeza de fundo de gaveta. O vendedor aparentemente não sabia o que fazer com ela e mandou junto...


Diversos detalhes, intrigavam na caneta. A começar pela marca e sua procedência... A Koh-I-Noor, é uma empresa antiquíssima e altamente conceituada. Iniciou suas atividades na Áustria no século XIX, mas rapidamente mudou-se para a Czechoslovakia, pois havia inventado a MASSA DE GRAFITE (grafite + óleo + argila), que tornou possível a fabricação de lápis e a Czechoslovakia tinha grandes jazidas de grafite em estado natural. Apesar disso, a caneta em questão, tinha a palavra GERMANY gravada em sua tampa...


Outro ponto curioso... A palavra Rapidograph, é o modelo de uma CANETA TÉCNICA fabricada da Alemanha pela empresa Rotring (atualmente pertence ao mesmo grupo dono da Parker e da Waterman). A palavra Rapidograph tornou-se tão importante, que virou sinônimo de caneta técnica.


Primeiramente, vamos falar de canetas técnicas. Em desenho técnico, utilizava-se tinta NANQUIM traçada com penas do tipo pinça (também conhecidas como "tira-linhas"), que tinham pouca autonomia e eram muito difíceis de regular traço. As canetas técnicas, traziam como novidade, uma pena cilíndrica, fina como uma agulha e com uma válvula interna de controle de fluxo. Com isso, podiam traçar uma linha de largura EXATA sem encharcar. A dificuldade maior, estava na precisão. Já imaginaram um tubo fino o suficiente para traçar linhas de 0.3 mm com um furo dentro e uma válvula passando por dentro desse furo???


Mas a caneta que eu adquiri, não era uma caneta técnica e sim uma caneta tinteiro, com pena convencional aberta, para escrever com tinta de caneta e não com nanquim...


Observando a caneta com uma lupa, vi escritos na pena os seguintes dizeres: "ROVER OSMIO"... Aí piorou de vez. Depois de muito pesquisar, acabei encontrando uma referência a uma marca ITALIANA de penas...


Procurando por RAPIDOGRAPH, acabei encontrando as seguintes imagens (observem na segunda foto, o formato da pena técnica):







Mas eram imagens de uma caneta Rotring ABSOLUTAMENTE IDÊNTICA à minha Koh-I-Noor... Essa charada, não foi fácil de matar. Durante alguns anos, as empresas Koh-I-Noor e Rotring, tiveram uma parceria, pela qual emprestavam suas marcas entre si conforme os mercados para os quais exportassem. Em países onde uma marca tinha mais renome que a outra, todos os produtos eram exportados com a marca mais famosa.


Primeira conclusão: Minha caneta, era de projeto Rotring e fabricada na Alemanha
Segunda conclusão: Como não havia nenhuma referência a uma caneta Rapidograph tinteiro, minha caneta provavelmente havia sido ADAPTADA pela adição de uma pena estrangeira...


Veja agora, imagens da minha caneta, como chegou às minhas mãos:






Observe na segunda foto, a tampa traseira removida mostrando o sistema de abastecimento, um "piston filler" com o manípulo de acionamento interno.


A caneta estava limpa, mas tratava-se sem sombra de dúvidas, de uma caneta usada. Nessas circunstâncias, sempre desmonto a caneta para uma limpeza mais cuidadosa. As canetas técnicas, precisam sem sempre cuidadosamente limpas após o uso, pois a tinta nanquim depois de seca, entope totalmente os canais de passagem inutilizando a caneta. Por essa razão, canetas técnicas são projetadas para serem desmontadas manualmente sem dificuldades e usando apenas as mãos. Nenhuma ferramenta adicional costuma ser necessária.


Continua...




Frankenpen III - Long Life 1950

Essa não chegou a ser propriamente uma Frankenpen... Talvez, fosse mais bem enquadrada como transplante de coração... A Long Life, é uma caneta que foi fabricada no pós guerra, durante a década de 50 (não há exatidão, pois a documentação é escassa...) na República Popular da China.


O que chamou minha atenção sobre a Long Life, foi o material de sua construção. Corpo, tampa e "nib section" da Long Life, são feitos em EBONITE, um dos polímeros mais antigos em produção. Segundo se afirma, ebonite foi descoberto por Charles Goodyear durante o processo que culminou com a invenção da vulcanização da borracha. A vulcanização, consiste de adicionar enxofre à borracha natural derretida a quente. Após esfriada, a borracha assume uma maior resistência à oxidação. Se o enxofre adicionado exceder determinada quantidade, a principal característica mecânica da borracha que é a elasticidade, se perde. Nos experimentos de Goodyear, ele percebeu que o material resultante era extremamente duro, facilmente trabalhável mecanicamente (torneamento, abrasão, polimento etc.) e que apresentava um belo brilho acetinado e escuro, assemelhado à madeira ébano (ebony em inglês), o que determinou o nome do polímero.


A Long Life, não é fabricada há muitos anos. Na China hoje, a grande maioria das canetas, inspira-se direta ou indiretamente nas canetas Parker de pena embutida. Inexplicavelmente, um enorme lote de Long Life, apareceu na Tailândia, anunciados em sites de leilão como o eBay... Num primeiro momento, a comunidade mundial de aficcionados, se perguntava se aqueles anúncios eram confiáveis, pois procediam de vendedores aparentemente desconhecidos. Os primeiros "corajosos" se arriscaram e as canetas começaram a chegar...


Não fui um dos primeiros, mas pelo valor, paguei pra ver. A caneta chegou. Tratava-se de uma caneta NOS, ou seja, sem qualquer uso, mas estocada há muitos anos. A falta absoluta de cuidados na estocagem, resultou em uma caneta totalmente suja e inoperante. Após limpa, lavada e desmontada, descobri que o "ink sac" da caneta havia se transformado em pó. Trocar um "ink sac", não é uma tarefa difícil. Difícil, seria esperar a chegada de um novo. Revirando meus guardados, encontrei um "ink sac" de Parker 51, que serviu perfeitamente.




A caneta ficou perfeita!!!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Frankenpen II - Skater 1950

Felizmente já está mudando, mas até bem pouco tempo, produto chinês era sinônimo de falsificação mal-acabada. No ramo das canetas tinteiro, isso está bem longe de ser verdade hoje. Essa tendência entretanto, não foi exclusividade dos chineses. No pós guerra, o Japão estava em sérias dificuldades, pois sua indústria estava destruída e desacreditada.


Muito produto "inspirado", foi fabricado no Japão. A caneta mais famosa, foi a P. ARKER. Na caixa, vinha o ponto de abreviação na letra P, mas esse ponto logo sumia e a caneta virava uma PARKER...


Outro prodígio da época, foi a Skater. Enquanto a P. ARKER imitava a Parker 51, a Skater imitava as Parker Vacumatic em celulóide laminado (as famosas "rajadinhas"), que embora não fossem mais fabricadas, ainda tinham muitos seguidores.


Encontrei minha Skater no Mercado Livre. O vendedor pedia R$ 10,00. Ofereci R$ 5,00 e ele topou...


A caneta, chegou em estado de miséria. Não tinha clipe, estava com a tampa descolada longitudinalmente (as canetas em celulóide eram feitas de uma lâmina moldada e colada) e chacoalhava, isto é, fazia barulho de coisa solta dentro quando se balançava.


A pena, por incrível que pareça, era uma genérica folheada a ouro, que depois mostrou ser super macia.


Não seria propriamente uma Frankenpen se tivesse vindo com clipe... Depois de procurar fotos, encontrei uma onde aparecia a tampa em close. O clipe imitava a flecha da Parker. Revirando as sucatas, encontrei um velho clipe de Parker 51 Vacumatic que serviu direitinho. 


Tampa colada, limpeza geral e fixação das peças internas (já que o "ink sac" incrivelmente estava íntegro...) e a caneta ficou pronta. Pode não ser uma caneta de "pedigree", mas há poucas sensações mais agradáveis do que tirar uma caneta da lata do lixo...



quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Frankenpen I - Parker 21 MkII

A Parker 21, é uma das canetas mais bem sucedidas da Parker. Fazer parte de uma família real sem perder valor e brilho para a rainha, é algo só possível para quem tenha muita personalidade. A Parker 21, foi lançada durante o reinado da Parker 51. A Parker 51 era fabricada com materiais e técnicas dos mais inovadores, o que rapidamente tornou-a objeto de desejo da maioria dos aficcionados por canetas.


Tais técnicas e materiais especiais, faziam da Parker 51 uma caneta CARA. A missão da Parker, era projetar e lançar no mercado uma caneta parecida com a 51, mas que pudesse custar mais barato em virtude de materiais e técnicas mais simples. Atingindo esse objetivo, estariam atendidos dois mercados principais, o dos usuários que não desejavam gastar demais com uma caneta e o mercado dos estudantes que queriam se livrar das pouco práticas penas de mergulho.


Nascia a Parker 21, diferente da 51 nos seguintes quesitos:


- Polímero: Poliestireno ao invés de acrílico;
- Acabamento da Tampa: Cromeadas e não folheadas a ouro;
- Protetor do ink sac: Desenho mais simples e econômico de material;
- Pena: Apesar de embutida, era recurva e não cilíndrica como na 51;
- Clipe: Sem o formato tradicional de flecha


Remexendo velhos achados em casa, encontrei uma Parker 21 MkII. Segunda geração da Parker 21, tinha pena integrada ao conjunto do "shell" (a região de empunhadura que cobre a pena) e clipe da tampa do tipo "hollow" (oco). Estado geral: Clipe com alguns pontos de corrosão por perda do cromo e pena sem o insert da ponta (o famoso "irídio"). Ninguém na família conseguiu afirmar com certeza quem tinha sido o dono/usuário dela.


A primeira idéia de quem vai consertar uma caneta, é substituir a(s) peça(s) avariadas por peças originais. No caso de uma Parker 21, essa tarefa é muito mais difícil do que parece a princípio. Projetada para ser uma caneta barata, a grande maioria quando fora de serviço, estava destinada ao lixo. Dessa forma, pouca gente guardou canetas que pudessem ser doadoras de peças e menos gente ainda tem peças de reposição novas para elas. Em outras palavras, como diz o popular: "NÃO VALE A PENA CONSERTAR"...


Mas as partes em polímero do corpo da caneta, estavam perfeitas, algo não muito comum em velhas Parker 21, pois o poliestireno é um polímero quebradiço e relatos de Parker 21 trincadas são muito comuns. Além disso, o "ink sac" estava íntegro e sem nenhum vazamento.


A desoxidação do clipe e a substituição da pena, poriam a caneta novamente em forma, mas depois de vários e-mails para muitas empresas especializadas, descobri que uma pena de Parker 21 era algo quase inexistente.


Fui então revirar a caixa de sucatas de canetas. Lá estava uma Parker 15 que usei diariamente por 20 anos. Essa caneta é conhecida atualmente como Parker Jotter tinteiro. Caneta muito simples, mas equipada com uma pena extremamente macia. Analisando a pena da Parker 15 na lupa, verifiquei que o insert da ponta estava perfeito.


Desmontado o conjunto alimentador/pena da Parker 21, constatei que a pena da 21 tinha o formato frontal ligeiramente diferente da 15 e o comprimento ligeiramente maior, mas a LARGURA era a mesma, o que permitiria o encaixe e fixação ideais.


Veja a seguir, fotos da caneta, que está perfeita e funcional. E o mais importante: Uma pena perfeita que equipava uma caneta quebrada, não foi parar no lixo... Importante observar, que essa adaptação, pode ser considerada como simples. O componente enxertado, apesar de fundamental, é da mesma marca e pela montagem embutida praticamente não mudou o visual original nem a funcionalidade da caneta.





A Parker 21 MkII com pena da Parker 15/Jotter 


Frankenpens

Mary Shelley é o nome da escritora. Britânica nascida em Londres no ano de 1797. Ficou famosa por um romance onde narra a história de um estudante de ciências naturais que acredita ter descoberto o segredo da fonte da geração da vida. Em seus estudos e experiências, cria um monstro. O nome do estudante? Victor Frankenstein...


O monstro, criado com pedaços de cadáveres, acabou populando o inconsciente coletivo. O sucesso da obra, tornou a palavra Frankenstein, um sinônimo de objeto construído com peças de diversos outros objetos. O termo foi adaptado e remodelado ao longo dos anos. No mundo das canetas, acabou tornando-se FRANKENPEN.


Canetas de boa qualidade, são fabricadas visando entre outros objetivos, a DURABILIDADE. Objetos duráveis, são feitos com componentes duráveis. Por vezes, uma caneta aparentemente inútil, tem vários componentes que estão em perfeita ordem e que por isso, poderiam facilmente voltarem a trabalhar. Ocorre entretanto, que freqüentemente não se encontra peças de reposição, por várias razões como modelo descontinuado, modelo raro (logo fabricou-se poucas peças e unidades) ou até mesmo pela demasiada simplicidade do modelo, que levou o fabricante a enquadrá-lo como descartável.


Um "caneteiro", raramente joga fora uma peça, por mais inútil que possa parecer. Como filho de ex-sucateiro, levo muito a sério essa regra. Uma Frankenpen, é portanto uma caneta que retomou sua funcionalidade, através da montagem com componentes de modelos e até mesmo de marcas diferentes.


Nos próximos posts, vou mostrar quatro canetas que foram salvas da lata de lixo através de enxertias de peças.

sábado, 30 de julho de 2011

Vamos pra escola!!!

Estão acabando as férias. Me lembrei do meu tempo de garoto. Fui alfabetizado no final da década de 60 com lápis e caneta tinteiro. Esferográfica naqueles tempos, era novidade. Até a década de 50, estudantes levavam para a escola penas de mergulho e tinteiros de encaixe. As penas de mergulho eram vendidas em embalagens com 20 até 100 unidades. Feitas em aço, não tinham ponta de metal duro. As tintas, bastante corrosivas destruíam rapidamente as penas que se tornavam irritantemente rascantes. A solução era descartar a pena e trocar por uma nova.


Os tinteiros de encaixe, eram cinturados em sua base para encaixar no tampo da carteira, num furo que lá existia. Estudei num colégio na cidade de São Paulo, que ainda tinha carteiras com esse furo. Certo dia inclusive, eu ganhei quinze "bottons" do Corinthians que cabiam bem justo nesse furo. Distribuí os "bottons" pela sala encaixando-os "na marra". Não saíam nem com reza. Como a maioria da turma era de sãopaulinos, a revolta estava garantida ;-)))


Carteira com furo para encaixar tinteiro


Nesse panorama, uma caneta tinteiro era a salvação da lavoura para um estudante. Ainda era necessário levar o tinteiro para a escola, pois a capacidade da caneta freqüentemente não era suficiente para um dia de aulas, mas o tinteiro ficava tampado e guardado sob a carteira, de maneira muito mais segura. Em geral, um reabastecimento no intervalo principal era suficiente para terminar a jornada.


As canetas tinteiro da década de 50 e 60, eram ainda consideradas instrumentos de luxo e os fabricantes perceberam que deveriam criar modelos simplificados para diminuir custos e torná-las acessíveis aos estudantes.


Apesar de baratas, precisariam ser obrigatoriamente robustas, pois a utilização escolar, é uma das utilizações mais severas que um instrumento de escrita pode experimentar.


Os principais fabricantes, optaram então por dois caminhos distintos. O mais simples, era fabricar edições barateadas de modelos mais caros. O mais complicado, era criar projetos exclusivamente desenvolvidos para utilização escolar.


Vamos ver alguns modelos de fabricantes famosos...


Parker


A década de 50, foi marcada como divisora de águas das canetas tinteiro. E o maior expoente dessa história, foi a legendária Parker 51. Uma Parker 51 entretanto, não era uma caneta para estudantes, em parte pela sofisticação demasiada, mas principalmente pelo preço, que fazia dela uma caneta distanciada da realidade da maioria dos estudantes. A Parker tentou inicialmente, baratear a Parker 51, lançando-a com pena de aço inoxidável, protetor de reservatório simplificado e com tampa cromada. O modelo foi denominado Parker 51 "Special", que apesar de mais barato, ainda era caro demais para uso estudantil. Pra não perder o bonde da história, a Parker tratou de criar uma caneta escolar. Visualmente muito parecida com a Parker 51, nascia a Parker 21, que diferia da "prima rica", por usar um polímero mais barato (poliestireno ao invés de acrílico), por utilizar um sistema de pena mais convencional (recurva em aço inoxidável ao invés de cilíndrica em ouro como a 51) e por ter um clipe de tampa sem a famosa flecha da Parker.


Uma Parker 21 MkII

Mas os estudantes queriam mais... Apesar do enorme sucesso da Parker 21, seus donos se ressentiam basicamente da falta do clipe em forma de flecha e também de uma pena cilíndrica como na Parker 51. Foi lançada então a Parker 21 Super, que continuou em produção até o ano de 1965.

Uma Parker 21 Super

No final da vida da Parker 21, havia ainda um modelo "Flighter" (corpo e tampa em aço inoxidável). A Parker 21 havia se tornado uma caneta mais cara e sofisticada. A Parker 45 que nasceu para ser uma caneta simples havia tomado seu lugar, sendo mais barata pois empregava técnicas de fabricação mais simples.

Pelikan

Fabricante alemão tradicionalíssimo, a Pelikan sempre foi notória por canetas de elevadíssimo padrão tecnológico, mas sua política de preços a afastava drasticamente das carteiras escolares. A Pelikan, optou então pela criação de linhas exclusivas para estudantes, sendo as mais famosas a linha Pelikano e a linha Go!

O sistema de abastecimento mais tradicional da Pelikan, era o famoso "piston filler", que pela complexidade encarecia demais uma caneta escolar. As Pelikano, por essa razão, eram quase que exclusivamente modelos a cartucho.

A Pelikan Go! M75 foi provavelmente a última "piston filler" escolar lançada pela empresa alemã. Era disponível também na versão P75, de design idêntico, mas com abastecimento por cartucho.

Uma Pelikan Go! M75


Johann Faber

Era o nome da subsidiária brasileira da empresa alemã Faber Castell. A Johann Faber, situada na cidade de São Carlos - SP, atualmente chama-se Faber Castell do Brasil. Fabricou excelentes canetas no Brasil. A mais famosa, foi a Faber Estudante. Tive uma que me acompanhou da quinta série até a faculdade. Era uma "piston filler" (na melhor tradição alemã...) com pena removível manualmente sem necessidade de ferramentas, bastando desrosquear para trocar ou para limpeza. Houve ainda uma segunda geração da Faber Estudante, com linhas mais retas e o mesmo sistema de pena removível e abastecimento "piston filler".

Uma Faber Estudante "demonstrator"

No início da década de 70, a Johann Faber, mudou radicalmente sua linha. Lançou a Faber 66, uma caneta mais sofisticada, com design inspirado na Parker 45 e com a pena muito semelhante à Sheaffer Skripsert (ambas modelos "escolares" das respectivas marcas). A Faber 66, era uma caneta abastecida a cartucho. Tinha corpo em polímero e tampa metálica em versões cromada e folheada a ouro. A versão escolar da Faber 66, era a Faber 56, idêntica em quase tudo, exceto na tampa que também era em polímero.


Uma Faber 66


Pilot


A prestigiada empresa japonesa, também fabricou canetas tinteiro no Brasil até meados da década de 70. Uma de suas mais conhecidas criações, foi a Pilot Juvenil, que como o nome não deixa duvidar, era uma caneta escolar. Tinha um design bastante avançado e abastecimento a cartucho. Uma das melhores relações custo-benefício que já tivemos em nosso país. Precisa, macia e barata.


Uma Pilot Juvenil


Dollar


Pouco conhecida no Brasil, a Dollar é uma empresa paquistanesa, que fabrica uma completíssima linha de material escolar. Fabrica canetas tinteiro baratas, praticamente todas voltadas para uso escolar. A mais emblemática delas, é um modelo denominado Dollar Student Pen. É uma "piston filler" com manípulo de acionamento interno. Sua tampa encaixa na extremidade posterior do corpo com um "clique" que impossibilita a perda da tampa. Simples, barata e praticamente à prova de bala. Custa no mercado internacional, menos de US$ 5.00.


Uma Dollar Student Pen

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Materiais - Polímeros (Terceira Geração)

A década de 50 chegava ao fim. Mesmo os países que haviam sido destruídos pela guerra, já estavam firmes novamente. Os polímeros desenvolvidos durante e por causa da guerra, já começavam a se mostrar "idosos". Novos materiais começaram a surgir. A mais brilhante das idéias no ramo, foram os COPOLÍMEROS.


Copolímeros, são polímeros cujas cadeias são formadas por monômeros diferentes em seqüências ordenadas. A idéia, é juntar num único material, diferentes características para obtenção de melhores resultados.


Diversos copolímeros nasceram na década de 50, mas sem sombra de dúvida, o mais importante deles, foi chamado de ABS (Acrilonitrila - Butadieno - Estireno). Peças em ABS são moldadas a partir de injeção por matéria prima granulada, que além da alta precisão nas medidas, ainda permite alto índice de automação na produção. Além dessas características, ABS ainda tem uma resistência enorme à abrasão, o que minimiza bastante a ocorrência de riscos superficiais.


A primeira empresa a adotar ABS na fabricação de canetas, foi a Parker, que em meados da década de 60, começou a mudar canetas fabricadas originalmente em poliestireno para ABS.


A legendária Parker 51, não ficou de fora. A última geração, denominada Parker 51 MkIII, passou a ser fabricada em ABS, sofrendo inclusive mudanças em suas formas originais. Atualmente, todas as canetas da Parker, utilizam ABS.


Outro material notório, é o POLICARBONATO. Embora concebido há muito tempo, só começou a ser produzido maciçamente pós década de 70. Excelente material para transparências. Atualmente muito utilizado em janelas de visualização de nível de tinta e em canetas do tipo "demonstrator".



domingo, 3 de julho de 2011

Materiais - Polímeros (Segunda Geração)

Se no final do século XIX os polímeros eram materiais raros e exóticos, a Segunda Guerra Mundial trouxe ao mundo tecnologias até então inimagináveis. A segunda geração dos polímeros, foi marcada por materiais que não mais eram descobertos ao acaso por inventores individuais. Os polímeros de segunda geração, tinham em geral a assinatura de grandes grupos industriais como DuPont, ICI, BASF etc.


Foi a era das resinas fenólicas (celeron, baquelite, fenolite e poliestireno), das poliolefínicas (polietileno, polipropileno) e das acrílicas (polimetil metacrilato).


Nem todos foram utilizados em canetas, portanto vou falar apenas dos mais importantes.


Baquelite


Descoberto em 1909 pelo químico Leo Bakeland, é um polímero fenólico, ou seja, seu monômero básico é um composto de fenol, um álcool do anel benzênico. Baquelite, tem alta resistência química (ótimo para aguentar tintas corrosivas) e excepcional resistência térmica. Por essa razão, foi utilizado muito tempo em gabinetes de equipamentos eletrônicos valvulados, que trabalhavam a altas temperaturas.


Um lote de canetas Ingersoll (Reino Unido) em baquelite


Poliestireno


Um dos polímeros de maior sucesso de todos os tempos, o poliestireno inovou a indústria de polímeros duplamente. Em primeiro lugar, por ser um polímero derivado de resinas fenólicas e olefínicas, ou seja, o poliestireno é um polietileno onde há adição de um anel benzênico por monômero unitário. Em segundo lugar, por ser um polímero TERMICAMENTE moldável, o que permitiu a introdução do processo industrial denominado INJEÇÃO. O polímero, em forma granulada, é alimentado nas injetoras, que derretem o material, colorizam e injetam em moldes. O processo, é altamente automatizado, permitindo produção barata em larga escala.


A mais bem sucedida caneta fabricada em poliestireno, foi a legendária Parker 21, que ensinou milhões de pessoas no mundo a escrever.


Uma Parker 21 Super


Outro ícone da escrita, fabricado em poliestireno, foi a Parker Jotter, a primeira esferográfica de sucesso do mundo. 


A maior inconveniência do poliestireno, está no mau comportamento a baixas temperaturas. É comum encontrar canetas de poliestireno que trincavam espontaneamente, principalmente em países frios.


Polimetil Metacrilato


Desenvolvido no Reino Unido pela ICI (Imperial Chemistry Industries), o PMMA, mais conhecido como ACRÍLICO, teve como primeira aplicação de peso, a construção de parabrisas de aviões, onde ficou conhecido como PLEXIGLASS. Em função da elevada qualidade ótica - foi o primeiro polímero utilizado em lentes - recebeu também de sua criadora o nome comercial LUCITE.


Acrílico, tornou-se um dos polímeros mais bem conceituados de todos os tempos. É praticamente impossível falar desse material sem chover no molhado.


No universo das canetas tinteiro, um material tão superlativo, só poderia ter sido utilizado na mais importante caneta tinteiro de todos os tempos, a Parker 51.


Uma Parker 51 Vacumatic (foto: richardspens.com)


O advento do acrílico, propiciou ainda uma novidade para as canetas. A Parker, ainda durante a primeira geração das Parker 51 (as Vacumatic), fabricou em acrílico transparente, canetas que inicialmente não se destinavam à venda e sim como objetos de demonstração em revendedores. Eram as canetas "Demonstrator", que tinham como objetivo mostrar aos compradores o funcionamento interno da caneta.


Uma Parker 51 Vacumatic Demonstrator (foto: richardspens.com)

sábado, 2 de julho de 2011

Materiais - Polímeros (Primeira Geração)

Existe muita coisa escrita sobre caneta tinteiro. Curiosamente, um dos pontos onde mais bobagem é dita, é sobre os POLÍMEROS, materiais essenciais na maioria das canetas. É comum em fóruns e propagandas, quando se quer super valorizar uma caneta, dizer que ela é feita de RESINA. Quando em contrapartida pretende-se desvalorizar uma caneta, se diz que é feita de plástico. Em geral, os adjetivos "vagabundo" ou "barato", são anexados à palavra plástico...

Não sou favorável a mistificações e meias-verdades. Primeiramente, é necessário entender a palavra PLÁSTICO. Em Física, quando se estuda deformações, existem dois comportamentos de um material. Se o material após ser submetido a um esforço RETORNA à sua forma original, dizemos que o material é ELÁSTICO. Se em contrapartida, o material após ser submetido a um esforço sofre deformação e NÃO retorna à forma original, diz-se que o material é PLÁSTICO.

Os materiais popularmente chamados de plásticos, podem ter origem natural ou sintética. A principal característica desses materiais, é serem formados por extensas cadeias moleculares. Essa extensão, confere a eles interessantes características de resistência. Tais cadeias, são compostas de um elemento básico denominado MONÔMERO que se repete indefinidamente formando as cadeias que são denominadas POLÍMEROS.

Chamar um polímero de "resina" quando se pretende dar importância ao fato, é uma besteira descomunal. TODO polímero, simples ou sofisticado, caro ou barato, é constituído de uma RESINA (que contém os monômeros isolados) que passa por um processo denominado POLIMERIZAÇÃO, onde através da adição de um catalisador ou ainda de um processo térmico, tem seus monômeros "acoplados" formando as longas cadeias.

Ebonite

Antes de surgirem as canetas tinteiro, caneta era uma mera haste onde se encaixava uma pena descartável numa das extremidades. Essa haste, na imensa maioria das vezes, era de madeira. Algumas mais luxuosas, poderiam ser feitas em outros materiais mais nobres, como marfim, ébano, metais preciosos etc.

Mas as canetas tinteiro, precisavam ser feitas de um material que além de durável, fosse impermeável, pois o corpo da caneta, serviria como reservatório de tinta. Estávamos nesse momento, na segunda metade do século XIX, onde o estadunidense Charles Goodyear havia acabado de descobrir um processo pelo qual a seiva coagulada da seringueira transformava-se em borracha estável, a VULCANIZAÇÃO. A borracha era derretida e misturada com enxofre. Após esfriar, tínhamos borracha vulcanizada, que se tornava estável e não reativa com o oxigênio do ar. Durante as experiências, um dia o Sr. Goodyear errou na dose de enxofre colocando excesso do componente. Ao invés de obter borracha elástica, obteve um material escuro e duríssimo. Esse material após polido, adquiria um belo brilho negro acetinado, semelhante à madeira ébano (ebony em inglês). Estava criado o primeiro polímero rígido, que foi denominado EBONITE.

As primeiras canetas tinteiro, eram feitas de ebonite. Além do belo brilho, ebonite tem uma resistência química enorme, algo que foi muito bem vindo, pois as tintas de então, eram extremamente corrosivas e o corpo das canetas era o reservatório propriamente dito. Adicionalmente, ebonite é facilmente moldável por usinagem, ou seja, a partir de tubos ou tarugos (barras cilíndricas) sólidos, é possível fazer canetas por TORNEARIA.


Sri Pendurangan Ranga torneando as canetas Ranga em ebonite

As primeiras canetas portanto, eram invariavelmente pretas ou no máximo em algum tom de marrom muito escuro. A primeira tentativa bem sucedida de colorizar o ebonite, foi obtida pela Parker, que conseguiu produzir ebonite numa cor avermelhada. As canetas Parker Duofold fabricadas em ebonite vermelho, ficaram conhecidas como Parker Big Red, sendo cobiçadíssimas pelos colecionadores até hoje.


Uma Parker Duofold "Big Red" da década de 20 em ebonite verrmelho

Outras tonalidades foram obtidas e até mesmo padrões mesclados, mas um novo material surgiu, destronando o ebonite.

Até hoje entretanto, existem fabricantes que produzem belas (e caras) canetas em ebonite.


Uma Cleo Skribent (Alemanha, ex-oriental) moderna em ebonite (foto: cleo-skribent.de)



Celulóide

Nome comercial dado para o Acetato de Nitrocelulose, que era obtido a partir da CÂNFORA. O material já era conhecido como matéria prima para filmes fotográficos e cinematográficos. No quesito resistência química, perde feio do ebonite. Algumas tintas, simplesmente eram proibidas para canetas de celulóide. Perde ainda na resistência térmica (celulóide é altamente inflamável, quem assistiu ao filme "Cinema Paradiso" sabe...). Qual a vantagem então sobre o ebonite??? BELEZA!!! Canetas de celulóide, podem ter muito mais cores e o celulóide após o polimento, tem um brilho belíssimo. Havia ainda o celulóide laminado, que consistia de um material obtido por várias camadas coladas de celulóide de cores diferentes, com interessantes efeitos visuais.

Uma Parker Vacumatic (década de 30) em celulóide laminado


Celulóide, reinou absoluto até a Segunda Guerra Mundial. A partir daí, novos polímeros assumiram a ponta dessa corrida.


Uma moderna Pelikan Souverän M800 em celulóide translúcido

Mas da mesma forma que ocorre com ebonite, celulóide AINDA tem aplicação e algumas canetas bastante sofisticadas (como a série Souverän da Pelikan), ainda utilizam celulóide em sua fabricação.

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