Na postagem "A Pena (II)", falei sobre os materiais construtivos de penas. Mas se a pena é o coração de uma caneta tinteiro, eu diria que a PONTA da pena, é o coração da pena... Novamente, um pouco de história... As penas de mergulho, tinham suas pontas "afiadas" em ângulos pré-determinados em função das características que deveriam ter. Algumas penas de mergulho, tinham suas pontas modificadas em formatos extremamente exóticos para a obtenção de efeitos especiais de traço.
Essas penas, de uma forma geral, escreviam riscando o papel. A sensação de pena arranhando, era sempre presente. Pela própria definição física de PRESSÃO, quanto mais fina fosse a ponta de uma pena, mais ela arranharia o papel. Esse era um - triste - fato do qual não se poderia fugir.
Conforme a pena se desgastava contra o papel e também conforme a corrosão provocada pela tinta ia aumentando, a pena ficava cada vez mais intratável, até chegar a hora onde a pena era simplesmente jogada no lixo. Uma nova pena era encaixada na caneta e a vida continuava. Por essa razão, as penas de escrita eram vendidas em embalagens com VÁRIAS unidades. Não raramente, um estudante começava um ano letivo com uma embalagem de CINQÜENTA penas e precisava repor seu estoque ainda antes do final do ano letivo.
Se o advento das canetas tinteiro apontou na direção de uma caneta mais prática, também tornou obrigatória a idéia de que a pena deveria DURAR MUITO MAIS que as velhas penas de mergulho.
Ainda no tempo das penas de mergulho, foi experimentada uma idéia que deu certo e tornou-se o padrão para as canetas tinteiro. Na extremidade das penas, seria engastada uma "bolinha" (o formato não é necessariamente esférico, porém...) feita em material muito mais duro que o aço e extremamente polida para não comprometer a maciez de deslizamento no papel. Esse material, deveria ser duro o suficiente para agüentar a agressão do papel e quimicamente resistente à agressão corrosiva das tintas.
O elemento mais utilizado e mais bem sucedido, foi inicialmente o IRÍDIO. Descoberto em 1804, o Irídio é um elemento químico do grupo VIIIb da tabela periódica, da mesma família da platina. Seu nome deriva do latim iris (arco-íris), em razão das diversas cores dos compostos químicos baseados nele. É o metal mais resistente à corrosão que se conhece. Branco, duro e quebradiço, só perde em massa específica do ósmio. É praticamente insolúvel em ácidos.
Por essa descrição, concluímos que é o metal perfeito para pontas de pena, não fosse o fato de que é EXTREMAMENTE RARO NA NATUREZA... Raro, rima com CARO... O Irídio, tem extrema facilidade de formar ligas com o Ferro. Em priscas eras, quando ainda não havia vida no planeta, o Irídio que era ABUNDANTE, combinou-se com o ferro e "mergulhou" para o núcleo do planeta, tendo sobrado uma ínfima quantidade na superfície. A produção anual de Irídio, não chega a 3 toneladas...
Esse fato levou a indústria a tentar outras soluções. A mais simples, foi a criação das penas com ponta SEM inserção de metal duro. O maior expoente dessa tecnologia, foram as penas Esterbrook das séries 1xxx e 2xxx. As pontas dessas penas, tinham "excessos" laterais que eram dobrados para baixo. Após a dobra, essas pontas eram modeladas, polidas e tratadas termicamente (têmpera), de forma a obterem as mesmas características de maciez e durabilidade de pontas com "insert" de metal duro. Por incrível que pareça, essa tecnologia chegou bem perto de atingir o objetivo. Atualmente, apenas a empresa "Dollar" (paquistanesa) utiliza essa tecnologia em suas penas.
A segunda idéia, foi a utilização de outro material, tão resistente quanto o Irídio porém mais barato e de fácil obtenção. A resposta, foi o CARBETO DE TUNGSTÊNIO SINTERIZADO, popularmente conhecido como Widia. Muito utilizado em pontas de brocas para furar concreto, na forma de "insert" de ponta de pena polido, atende às necessidades atuais sem problemas.
Outro material que vem sendo bastante usado, mas atinge preços estratosféricos, é o RÓDIO.
De qualquer forma, Irídio virou mais do que um material. Hoje é praticamente um SINÔNIMO de ponta de pena de caneta tinteiro, mesmo quando não está presente...
Mas é um professor, mesmo!!
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